Capítulo I | Inocência










AVISO

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O PAPO FOI DADO








“— Seja a minha mulher.”




“— [...] eu te amo.”




“— [...] tudo ao meu alcance, qualquer coisa para te fazer feliz.”




“— Casa comigo, Serena Van der Fleurs?”




As palavras de seu amado ainda ecoavam pela cabeça da moça de uma maneira desgovernada. Pudera, não era a primeira noite em claro que compartilhava com a sacada luxuosa do Richissime Hotel. Não podia se queixar ou não tinha certeza se a exuberante e iluminada panorâmica da cidade de Lumiose a auxiliava a recolocar os pensamentos em uma ordem que fizesse sentido ou que fosse mais reconfortante.









Quando foi que isso aconteceu? Quando foi que se permitiu, ou simplesmente se deixou levar, à surpresa de estacionar em uma reação totalmente contrária a que deveria relutar? Questões idiotas, sem fundamento e totalmente irrelevantes perante o seu cansaço mental. Massageou as têmporas e bocejou de uma forma bem preguiçosa. Parece que tudo havia saído de seu controle há um bom tempo, mas não fazia questão de enxergar.





Apoiou-se no parapeito de mármore e tornou o rosto em direção do quarto. O banho que havia tomado há pouco tempo deixava uma simples brisa muito mais refrescante e o sereno adocicava os seus longos e molhados cabelos loiros-mel. Além das cortinas esvoaçantes, pôde admirar o seu estimado noivo em seu décimo sono. O flagrou de forma tão involuntária quanto o pequeníssimo sorriso que se desenhou em seus pequenos e retraídos lábios. E pensar que seria a mulher dele, se já não era; retomou a atenção às ruas desertas e radiantes da cidade-luz. A calada do céu parcialmente estrelado e o frio da madrugada a aconchegaram quando cruzou seus braços nus e os entrelaçou um pouco mais rente ao seu corpo.





Ele era seu, não havia mais dúvidas quanto a isso. Quem dera pudesse premeditar que desde o primeiro dia que o conheceu — um pobre e calado menino diante de um acampamento de férias —, a vida lhe pregaria tantas surpresas a ponto de estarem juntos há tanto tempo. Como passou por perrengues, desde então, arqueou as sobrancelhas de forma automática só de repensar nas aventuras de uma jovem treinadora de Pokémon em busca de tantas oportunidades. Lembranças tão generosas, momentos tão marcantes e, além disso, o arrependimento da indecisão de escolhas decisivas; desde uma simples resposta até obstáculos mais poderosos em seu caminho.





Apesar dos pesares, como o amava. Acima de tudo. Foi esse amor que a humanizou outra vez, quando pôde descobrir que não era o monstro que achava ser, mesmo sob a influência de alguém que se estima que esteja morto e enterrado. Gostava, em especial, daquele que a apresentou um mundo completamente novo e que fez a jovem Serena Van der Fleurs morrer e renascer de uma forma que se orgulhava tanto.





Com um semblante ligeiramente choroso, seus belos olhos azuis encararam a majestosidade do céu parisiense. Podia se imaginar como a esposa dele. Como se amaldiçoava, às vezes. Até mesmo um filho já circulou por seu errôneo juízo. Foi uma burra de não ter agido quando teve a primeira oportunidade; mas, pudera, não poderia adivinhar quando o destino lhe concederia uma chance. Ele parecia estar tão bem com a outra, na época, que desistiu de tudo relacionado ao seu nome e investiu em si mesma. Se valorizou. Traçou rotas que se orgulhava, outras nem tanto. As Exibições, seu triunfo idealizado desde quando era uma pequena garotinha, fizeram parte da sua vida com a recompensa do progresso das conquistas, dos prêmios, do renome estridente através do globo e dos esforços e sacrifícios que guardou em seu título de Rainha de Kalos.





Mas ainda havia tantas variáveis que impediam a ideia tranquila de apenas pensar num nome para o futuro menino ou para a futura menina que planejariam algum dia. A principal delas, evitava até mesmo em pensar no nome do fulano, mas nenhuma notícia confirmou algo com tanta veracidade a não ser apenas o seu desaparecimento. O que estava fazendo e contra quem poderia conspirar, temia — e muito — por isso. Um homem vingativo e possessivo que, outrora, tivera a audácia de chamá-lo por pai. Simplesmente não era seguro elevar um casamento no civil ou por qualquer outro método oficial, mesmo que seu pretendente estivesse contente com as trocas de alianças e juras eternas de amor, não seria o suficiente.





Isso só chamaria atenção indesejada, claro. Não que quisesse ocultar o fato de, se fosse o caso, ser listada e reconhecida como a esposa oficial de Ash Ketchum. No entanto, pensava na real situação. Na segurança. Não na sua; na dele. Mesmo que não precisasse. Ele já era um homem, afinal de contas. Por mais que não duvidasse de suas capacidades físicas ou de autodefesa, não era desse tipo de proteção que a preocupava. A sede por vingança, desde questões de negócios arruinados e conchavos com famílias renomadas que acabaram na miséria, nada disso acabaria bem.





A solução mais viável era a distância e ela estava fazendo o oposto. No mundo ideal de seu amado, era o plano perfeito; tão inocente, a mesma que tanto era afeiçoada desde a infância. Ainda assim, não o culparia por isso. A culpa era inteiramente sua. Por se deixar levar, mesmo sabendo que aconteceria o que tinha que acontecer. Caberia só a ela consertar a besteira que fez.





Fechou os olhos e permitiu que uma lágrima escorresse lenta e dolorosamente por sua bochecha esquerda. Ele iria sofrer, de fato, mas ao menos estaria a salvo e vivo. Não podia fazê-lo entender os seus reais motivos, se realmente o amava, era o seu dever fazê-lo acreditar que devia continuar no exato lugar onde está agora; um verdadeiro Mestre Pokémon. O que tanto almejou para a sua vida e se orgulhava tanto quanto ela perante suas apresentações temáticas. Não podia simplesmente arrancá-lo de sua vocação por conforto.





Com o tempo, quem sabe, ele iria esquecer e tudo o que viveram não passaria de uma vaga lembrança. Afinal, quem amaria aquela que, no final, não passou de uma covarde e egoísta?






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— Serena? — O tempo que percebeu a voz de seu estimado foi o suficiente para que rapidamente enxugasse os olhos. — Você está chorando?





— Não, eu só — Forçou um sorriso. — Eu só estava um pouco sonolenta e- bem, você me pegou de surpresa.





— Pensando na resposta sobre o que eu te propus? — Correspondeu o gesto, tão natural quanto nauseado de sono. Era tão lindo, de qualquer forma, que ela não respondeu a princípio, apenas o observou por longos segundos. — Sim?





Serena respirou fundo e quando olhou no fundo dos olhos do amante, pôde encontrar a única resposta que seu peito hesitante e descompassado poderia assumir.





— Seria bom demais para ser verdade.





— Hm — Pousou um gesto com as mãos, como se quisesse que ela esperasse um pouquinho. — Eu venho fazendo suspense para te mostrar isso. Queria que fosse na última noite em que estivéssemos aqui, mas-





O resto soou incompreensível, seja pela voz dormente do jovem Ketchum ou por ter adentrado ao quarto mais uma vez. Parecia procurar algo e ela temia saber o que era. O rapaz quase tropeçou após esbarrar em um par de pantufas próximas de um carpete. Algumas coisas não mudavam nunca, afinal de contas. Poucos segundos depois, simplesmente deixou que ele empurrasse a joia, a qual encaixou de forma perfeita em seu anelar.





— É lindo. — Disse, com sinceridade e agradecimento em seu tom. — Eu nunca teria imaginado algo que fosse mais perfeito do que isso.





— Fico aliviado. — Riu de leve. A aprovação dela foi eficaz em despertá-lo consideravelmente. Os olhos castanhos estavam mais vivos do que momentos atrás, como o de costume. — Eu admito que não tinha certeza se era o seu número.





Era lindo mesmo, qualquer que fosse o diamante encrustado naquele pequeno brilhante. Nem mesmo a penumbra do continente afrancesado era capaz de ofuscá-lo.





— Eu preciso ligar para aquela assessoria e pedir para que eles preparem os papeis e as nossas passagens. Ah, também não posso deixar de telefonar para a minha mãe. Aquela companhia de viagens ofereceu um pacote de lua-de-mel muito interessante, acho que deveríamos pensar no assunto com calma e- espero mesmo que o Brock esteja desocupado nesse dia, é um convidado de honra. — Riu com gosto.





Estava mesmo animado, nem era preciso de muito para constatar. Talvez era uma parte de si que ainda não havia se desprendido da personalidade tão cativante que ostentava; mesmo que pudesse demonstrar um sinal claro de ansiedade que lhe custava a euforia positivista sobre quaisquer possibilidades. Tão pensativo e sonhador com os prósperos que não botou reparo na segunda e invasiva lágrima que sua amada permitiu que se desprendesse de seus cílios trêmulos.





— Psss. — Gentilmente, tocou os lábios de Ash até que o acalmasse por completo. — Você não precisa pensar nisso agora, meu amor.





Ela tinha razão, não era momento para afirmar qualquer pensamento. Para ele, tinha a sua noiva, cheia de amor para compartilhar depois de tantos anos e que, agora, finalmente aceitaria a sua proposta. Inacreditável, depois de um tempo em que o relacionamento conturbado envolvendo razões externas os impediam de um relacionamento livre de regras e imposições feitas por ela.





Aos poucos, a Van der Fleurs o conduziu de volta à cama, incentivando-o a desvestir sua regata negra abatida. Em menos tempo ainda, o Ketchum compreendeu o recado, quando a moça desenrolou a toalha de banho da cintura e deitou por cima dele. Se agarrou aos cabelos ainda úmidos dela enquanto se beijavam e ela o envolvia entre as pernas, ao acômodo do melhor sob o seu corpo. Ambos poderiam concordar que amavam isso, como seus corpos se encaixavam perfeitamente.





A francesa moveu os quadris e gemeu por entre um beijo ávido e prolongado quando sentiu a pressão do sexo rijo do rapaz contra a sua umidade à medida que espremia mais o corpo dele contra o seu; os quadris, a barriga, peito com peito, no desejo de se tornarem um.





Ash deixou o beijo para um breve gemido engasgado, então avançou ao pescoço da loira. O apossou com força, sem medo de deixar alguma marca. Suas mãos grandes e fortes corriam desesperadamente pelo corpo levissimamente bronzeado de Serena. Apalpou e apertou um de seus seios antes de tomá-lo quase por inteiro na boca. Era, sem dúvidas, uma caraterística favorita nela. Os fortes traços ocidentais, definida, esbelta, um belo par de pernas e um quadril satisfatoriamente largo. Não tinha seios exagerados e preferia assim, eram grandes o suficiente para preencherem um decote, porém pequenos o necessário para que coubessem em suas mãos. Poderia ficar uma noite inteira brincando com eles, se ela deixasse.





Estava até estranhando como ela estava apenas ali, tão boazinha embaixo dele, sem assumir as rédeas da situação. Estava completamente entregue a ele, carinhosa, aceitando as suas investidas, aproveitando as suas carícias e deixando que fizesse tudo do seu jeito.





Serena queria aproveitar cada toque, cada oportunidade de beijá-lo, até mesmo de sentir o seu cheiro bom que nunca mudava, desde quando o reencontrou aos seus 14 anos. Ela ergueu mais as pernas em torno da cintura do moreno; o momento em que ele introduziu o primeiro dedo nela. A moça o beijava nos ombros, no pescoço, na orelha, incentivando-o a avançar. Seus corpos ainda colados. A ereção do seu amado pulsando contra seu ventre.





— Olha para mim. — O pedido do rapaz soou num sussurro. E foi atendido. Eram os olhos azuis mais claros, exóticos e lindos que já tinha visto. — Não fecha, eu quero olhar para você.





Da mesma forma, a Van der Fleurs pôde admirar ao fundo daqueles olhos escuros e tão verdadeiros desde o princípio. No momento da desejada penetração, de uma vez; numa só investida; a resposta da loira foi um súbito puxar pela nuca, deixando o rosto de ambos apenas alguns milímetros de distância do outro. O Ketchum ainda estava dentro dela, encarando-a profundamente sem permitir que ela desviasse o olhar. Começou a se mover dentro dela, podia escutar os próprios suspiros se misturando aos dele. O envolveu com os braços e finalmente fechou os olhos para beijá-lo mais uma vez. Sentiu as mãos fortes a segurarem pelas nádegas à medida que se arremetia mais rápido. A fina camada de suor que formava no corpo torneado e um tanto dourado do rapaz em mistura com o seu.





Tentou erguer ainda mais os joelhos, usando as pernas para empurrá-lo mais contra si. Sentia o prazer imensurável, mesclado ao remorso de seus pensamentos anteriores e do que faria a seguir. O rapaz não percebeu as novas lágrimas se formarem nos olhos da moça quando ela atingiu o seu orgasmo. Pouco tempo depois, ele a acompanhou, inundando-a com seu gozo.





Não muito tempo depois, a temperatura elevada de seus corpos, a ventania provinda da madrugada traiçoeira e da sacada aberta, finalmente o frio atingiu os seus corpos enquanto ainda recuperavam o folego sobre os cobertores. Serena ainda recebeu a última facada em seu peito antes de Ash adormecer.





— Obrigado, Serena. Hoje foi o dia mais feliz da minha vida.





Ela sorriu.





Ela agradeceu ao fato dele a abraçar de costas,





assim, ele não a veria chorar.













Ash abriu os olhos devagar. Estava muito tonto, como se tivesse sido atropelado por um ônibus. Os raios solares da manhã eram como um veneno para que lhe atordoasse ainda mais. Depois de um tempo tentando entender o que diabos estava acontecendo, chegou à conclusão de que só podia ter sido drogado.





Alguém o botou para dormir e a dosagem não foi economizada. Imediatamente, procurou por Serena ao seu lado. Nada. O primeiro pensamento, desesperador, resumia à hipótese de ter sido levada. Provável que a pessoa que ela tanto odiava e respondia o mínimo possível quando perguntada. Saiu da cama às pressas, à procura de qualquer vestígio no quarto que pudesse lhe auxiliar em qualquer dica de como e onde procurá-la. A visão turva e o gosto amargo na boca não ajudavam nem um bocado, além do corpo fraco. Suas roupas estavam intactas, da mesma forma como as abandonou ontem. O mesmo valia para as Pokébolas sobre uma mesa de canto. Só restava o banheiro, mas não havia ninguém lá assim que chutou a porta com rapidez.





Quando voltou para a cama, quase sentiu o coração falhar quando observou o criado-mudo.





Um envelope e, sobre ele, o anel que havia dado a Serena.





Tão inocente, ainda estava cogitando que fosse um pedido de resgate ou algo similar contido naquele papel.





“Ash,

Eu sei que não há pedido de desculpas que seja o suficiente para você me perdoar. Se te serve de consolo, foi maravilhoso — não, melhor; perfeito — ser a sua noiva, mesmo que só por um dia. Eu tentei. Eu queria muito ser a mulher certa para você, simplesmente ir embora e ficar ao seu lado. Infelizmente, tive que realizar que essa não pode ser eu.

Também percebi que não é certo continuar fazendo isso com você. Você merece muito mais da vida do que eu posso te oferecer. Você merece alguém que saiba amar como você me ama; que saiba cuidar de você como você sempre cuidou de quem gosta. Eu não sei. Eu achei que poderíamos ser amantes e conciliar os nossos estilos de vida e objetivos diferentes, independente daquilo que nos atormenta ou sentimos um pelo outro, mas me enganei.

Eu assumo toda a responsabilidade pelo rumo que as coisas tomaram. Você não fez nada de errado, não pense nisso; a culpa foi toda minha. Para garantir que eu nunca mais vou te atrapalhar, decidi te deixar essa carta. Para te avisar que não espere mais notícias minhas e não programe a sua vida pensando que vamos nos encontrar de novo.

Eu sinto muito. O suficiente para não ter coragem de te dizer adeus cara a cara.

Nós não somos mais nada um do outro. Apenas tivemos um passado que, para mim, acredite, significou muito.

Você terá uma vida maravilhosa com alguém que te mereça. Eu não tenho a menor dúvida disso.

Você é o melhor Mestre Pokémon que eu pude conhecer, o melhor amigo que já tive e o maior amor da minha vida.





Serena.”

PS: Desculpa por ter te drogado, eu não podia correr o risco de você acordar a tempo de me alcançar ou de eu me arrepender na última hora por causa desse seu sorriso bobo.




Não disse uma palavra, sequer. A caligrafia de sua amada foi manchada por algumas gotas. Tão dolorosas que nem podia descrevê-las.





Era mesmo um inocente.





TO BE CONTINUED

PUBLICAÇÃO ORIGINAL EM 08/01/2019.
EDITADA EM 09/04/2022.

Comentários

  1. Justiça por Ash Ketchum! 😡

    #VoltaMay
    #Mentira
    #TaMelhorSemEla

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  2. Absolutamente repulsivo, porém como consigo trazê-la de volta?

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