Crônicas de um diretor falido | Capítulo Especial (2021)










A vida sempre foi uma caixinha de surpresas para Pether Morgenstern e, diante disso, ele esteve em diversas situações inusitadas, engraçadas ou desastrosas e, curiosamente, a grande maioria ocorrendo em uma data específica: no dia 21/08.





E mais uma vez esse dia chegou e, mais uma vez, o destino pode estar preparando alguma situação desafiadora para Pether vivenciar. Conseguirá ele superar isso e encontrar aquilo que lhe foi prometido?





O que fará esse estapafúrdio diretor desta vez?









AVISO

Este é um capítulo de dedicatória. Os elementos e referências contidos neste são de responsabilidades de seus respectivos autores e podem, ou não, estabelecer conexões parciais ou totais com o universo de suas histórias.

O PAPO FOI DADO




O ruído impertinente do ventilador de teto destruiria qualquer descanso minimamente pacífico dentro daquele velho e escuro apartamento.





Contudo, para um homem que havia trabalhado pelas últimas dezesseis horas seguidas, aquele local conjugado com o ventilador cambaleante e o colchão duro em que descansava soava até mesmo reconfortante.





O sono profundo, portanto, prevaleceria por mais algumas horas, já que sua face madura não emitia quaisquer sinais de desperto. Entretanto, o som alarmante de seu aparelho portátil conseguiu sobressair qualquer outro efeito sonoro irritante e penetrar ao cérebro adormecido do cidadão.





— Argh! Que droga! — seu praguejo matinal acompanhou um bocejo nada revigorante, enquanto seus olhos semiabertos buscavam pelo aparelho responsável pela quebra de seu descanso.





O encontrou, sem muita dificuldade, no gasto criado-mudo de madeira junto de seus inseparáveis óculos – tratando de pô-los no devido lugar de seu rosto.





— Eu preciso mesmo mudar o toque dessa porcaria! — apertou a lateral do portátil, cessando o som e prevalecendo apenas com a chamada ativa. Ao ler o nome no visor, arqueou inconscientemente a sobrancelha, atendendo-o. — Anne? Por que diabos você está me ligando — afastou-o do rosto para conferir o horário — as onze horas da madrugada?!





A hipérbole adotada contagiou uma gargalhada da denominada Anne.





— Você ainda estava dormindo? — sua voz sinalizava incredulidade. — Nem mesmo hoje você fez uma forcinha para acordar mais cedo e preparar algo?





— Hoje? Mas o que isso- — sua fala é cortada após o breve relance de olhos em um calendário encardido preso na parede. — Putz, eu esqueci desse detalhe, já está chegando, né?





— Você esquecendo de datas?! — desacreditou novamente. — O que houve? E que ruído estranho é esse?





— Ah — o homem se senta na beira do colchão —, eu não estou exatamente na minha zona de conforto agora.





O resmungo confuso do outro lado lhe sinalizou para prosseguir.





— Estou junto com a equipe de gravação em Hoenn, finalmente chegamos no aclamado arco da-





— SEM SPOILERS! — o grito quase estrangulou os tímpanos do rapaz.





— Depois dessa tentativa de me deixar surdo, eu deveria te dar — mano? — só por vingança! — juntou as sobrancelhas, descontente. — Enfim, por falta de verba, acabei ficando em um alojamento de quinta categoria.





— Me admira você ter conseguido levar todo o elenco para aí. — Contrapôs a garota, normalizando seu tom de voz.





— Ah, sobre isso — o homem exibe um sorriso sem graça — se algum agiota chamado Hulk procurar pelo seu amigo que usa crocs, pode ter certeza de que eu não tenho nada a ver com isso.





— COMO É QUE É?! — uma voz masculina se destacou na chamada.





— Putz, ele tá aí perto, é? De todo jeito, o que você queria, afinal? Falamos, falamos e não dissemos nada.





— Ah. É... — o desconcerto repentino intrigou o homem. — Eu queria me, como posso dizer, pedir desculpas... não vou conseguir comemorar com você esse ano, sabe, estamos meio distantes da sua localização atualmente.





O homem sorri.





— Era só isso? — ele balança a cabeça. — Fica tranquila, não é como se eu esperasse que você preparasse uma surpresa todo ano para mim. A minha festinha do ano passado vale por dois, então fique despreocupada.





A rara gentileza trouxe um acalento ao coração da garota e, devido um soluço impensável, o homem pôde especular com precisão que algumas lágrimas lutavam para sair dos olhos dela.





— Certo. Mas mesmo assim me desculpe! — a amargura acentuada na sua voz fez o sorriso dele prevalecer. — Assim que der meia noite eu vou te ligar de novo, prometo!





— Tudo bem — ele concorda. — Esperarei.





— Até, Pether!





E com isso, a ligação é finalizada.





Ainda sentado na cama, Pether recorda do seu último ano e das circunstâncias totalmente impremeditadas por ele. Não sabia ainda o que havia feito para merecer tamanho carinho, tampouco se achava digno de tal, mas no fundo agradecia a consideração.





Esses pensamentos o seguiram pelo quarto pequeno, enquanto ajeitava-se para um revigorante almoço antes de retomar suas gravações.





Utilizando o pequeno espelho do banheiro, o rapaz ajeita o seu marcante e inseparável sobretudo marrom no corpo, remexendo seus desalinhados cabelos castanho-claros em uma falha tentativa de desembaraçar seus fios.





— Bom, eu não preciso me preocupar com isso mesmo — assegurou ao desistir de arrumá-lo.





Direcionou-se até um gancho ao lado da porta, mirando o chapéu que utiliza junto do seu, praticamente, uniforme de trabalho. O calendário recém visto encontrava-se ao lado, gerando uma nova rápida análise ao papel e retirando um sorriso do homem.





— Essa data realmente me traz boas lembranças — encaixou seu chapéu na cabeça — das mais absurdas às mais inesperadas. — Conforme as recordações lhe alcançava, uma nova e simbólica risada era esboçada. — Bom, não é como se isso fosse acontecer para sem-





Pether estagna ao abrir a porta de seu quarto – o qual dava direto para a varanda da pousada – e seus olhos se dilatam diante de uma van escura acentuada de um insulfilm negro. E por reflexo, fecha a porta novamente em um único estalado.





— Calma, Pether, isso é apenas paranoia causada pelas lembranças. Não tem como isso acontecer de no-





No instante seguido, bombas de fumaça são arremessadas pela janela e uma frigideira nocauteia o pobre homem de sobretudo.





Tem como acontecer de novo.





— * —





 A cabeça latejante somado daqueles olhos pesados mimoseava as memórias do Morgenstern. Talvez considerassem sadismo ou masoquismo, contudo uma emoção adormecida era reacendida conforme sua consciência retornava ao lúcido. Uma emoção nostálgica, uma adrenalina que há muitos anos não se sentia.





Ele poderia se emputecer, poderia praguejar quem quer que tenha lhe acertado, contudo Pether apenas pôde sorrir, enquanto seu peito segurava toda a ansiedade para saber o que lhe esperava.





E tudo fora por água abaixo quando ele vislumbrou – em meio de uma visão parcialmente turva – o único rosto além do seu presente naquela sala branca.





— O que diabos você está fazendo? — a voz impaciente acompanhava a feição cismática do rapaz. Seus olhos refletiam o homem de sobretudo voltar a se deitar na mesma posição inicial, enquanto apertava os olhos em uma tentativa falha de retornar ao absorto inconsciente.





— Não fale comigo, estou tentando dormir de novo. — Resmungou.





— Quê? — o menino se levanta da cadeira de madeira a qual repousava. — Qual é a palhaçada da vez?





— Me desculpe, mas eu não quero que minha primeira visão após despertar de um possível sequestro seja, bem, você. — Desdenhou encarando dos cabelos desalinhados e escuros do rapaz até os confortáveis crocs adotados por seus pés. — Agora me faz um favor e procura por uma menina chamada Amy Thunderbolt, essa sim é uma visão que eu quero ter após acordar.





A feição do rapaz se modifica para uma singela incredulidade.





— Essa, sem dúvidas, não era a reação que eu esperava de você após acordar de um sequestro. — O rapaz massageia o pescoço, escondendo a mão em sua jaqueta vermelha.





Pether arqueia a sobrancelha.





— First time? — o inquerido lhe olha de esguelha. — Ah, não, eu esqueci que de sequestros você entende. — Abafou uma risada com a mão, recebendo uma bufada do rapaz.





— Bom, espertão, você sabe o porquê de está aqui?





— Olha, se tiver a ver com aquele agiota, eu não digo nada sem a presença dos meus advogados-





— Não é isso! — exasperou, erguendo seu olhar. — Céus, por que eu fui topar fazer isso?





— Então, me diga, por que estou aqui? — Pether se arrastou até a beira da cama, sentando-se.





O rapaz se locomove até a cadeira, sentando.





— Bom, pela sua reação, não é a primeira vez que fazem algo do tipo com você perto dessa data, não é?





— Nem mesmo a segunda! — garantiu o homem.





— Pois bem, por mais estranho que isso seja, vai me poupar bastante explicações. Portanto — o rapaz jovial se levanta e, ao abrir a porta, sorri — Bem-vindo, Morgenstern, ao seu Caça ao Presente! — tentando ao máximo expressar qualquer simpatia, o rapaz ergue seu braço para o lado de fora do quarto.





— É sério, não tinha mesmo ninguém melhor para fazer isso? Uma pinha seria um substituto mais aceitável.  





— Cala a boca e sai logo desse quarto! — bradou o rapaz.





Após soltar uma risadinha de canto, Pether assente e pega seu chapéu ao lado da cama, caminhando para o lado externo.





O homem contempla o exterior intrigado. A área alojava seis portas de diferentes cores – branca, uma mesclada entre dourado e prateado, azul, amarela, roxa e laranja –, as quais encontravam posicionadas de uma maneira que criava a perspectiva arredondada do cômodo.





No centro, um baú de madeira com cristas douradas repousava sobre um tapete circular vermelho. O objeto continha quatro fechaduras em sua parte frontal, entretanto, não havia nenhum molho de chaves ao seu redor.





— Isso parece interessante. — Pether se aproxima do baú e o analisa superficialmente.





— Bom, esse é o seu presente. — O rapaz lhe acompanha, sorrindo. O Morgenstern o olha, intrigado. — E para abri-lo, você deverá encontrar as quatro chaves perdidas!





— Mas claro que vou — o homem suspira. — Deixa eu adivinhar, cada uma está atrás dessas portas aí, né?   





— Sim. Mas não são apenas as chaves que lhe esperam atrás dessas portas. — Complementa o garoto. — Para conquistar as quatro chaves do baú, você deverá cumprir os desafios que preparamos e, assim, receber o seu presente de aniversário!





Pether reflete e relanceia seu olhar do baú para todas as portas até, enfim, encarar os olhos do introdutor.





— Sabia que desde que eu acordei, essa é a primeira vez que citam que toda essa algazarra é por causa do meu aniversário? — e mais uma vez, a face do garoto é convertida a uma descrença perante o inesperado comentário.





— Você tem um sério problema com comentá- espera, sério? — ele raciocina. — Putz, ainda bem que isso não é transmitido ou algo assim, pois com certeza iria confundir muita gente.





— De farto! — utilizou de um sotaque errôneo para enfatizar a palavra. — Mas bem, eu preciso escolher uma porta então, é isso?





— Isso.





Pether analisa cada uma. A porta branca guardava o quarto em que ele acordou, logo estava fora da lista, as demais portas não ostentavam de outras características além das cores, contudo as cores mescladas em dourado e prateado, sem dúvidas fora o que mais lhe chamou atenção.





— Bem, vamos na bicolor ali, né — apontou para a selecionada — do jeito que ela é chamativa, com certeza é para ser escolhida primeiro.





O rapaz sorri e abre caminho para o homem.





— Pois bem, fique à vontade.





Sem cerimônias, Pether caminha até a porta escolhida sem qualquer aspecto animado ou ansioso e, ao girar a maçaneta, ouve o ressoar da voz do garoto em seus ouvidos.





— Ah, Pether, não se esqueça de uma coisa — Pether se vira para confrontá-lo. — Fique de olho no Lance!





E com tais palavras inexplicadas, o homem avança para seu primeiro desafio.





— * —





A sala guardava um espaço peculiar. Sua área era surpreendentemente maior que do quarto em que acordara, tal qual suas paredes que adotavam a combinação de cores prateadas com o dourado pelas paredes.





A boa iluminação cobria toda a área retangular e seu centro destacava um campo de terra com marcações feitas a giz, dividindo-o para um único propósito, um propósito muito bem reconhecido por Pether.






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Em meio de um pequeno sorriso, Pether finalmente sai da inércia e transita pelo local em meio do seu olhar curioso. Sua atenção é presa em um pequeno aparelho estacionado na lateral da sala.





O item assemelhava-se com uma incubadora – talvez até mesmo sendo uma – tendo sua parte inferior branca, enquanto a superior era protegida por uma capa de vidro e era sustentada por uma coluna de metal.





— Mas o que temos aqui? — aproximou-se e seus olhos se arregalaram por trás dos óculos. — Mas num pode cê. — Embora a descrença, as curvas de seus lábios se convergiram em um sorriso emocionado. 





Todo o desânimo que lhe envolvia na sala anterior havia sido modificado para uma genuína empolgação. Talvez ele tivesse regredido dez anos, doze anos ao passado, talvez aquele sentimento adormecido tivesse lhe dominado.





Mas ele não se importava.





Apenas apertou o botão prateado do aparelho e aguardou, ansioso, o vidro se deslocar do berço de metal. E após os tortuosos segundos, ele pôde tê-la em mãos.





Aquela esfera bicolor – branca e vermelha, respectivamente – reluziu ao confrontar a iluminação da sala e demostrou ser tão polida e cintilante quanto o olhar de Pether que caia sob ela.





Ele estava trêmulo, mas já sabia o que fazer. Ao esticar o braço para frente, coçou a garganta e crispou os lábios, sentindo sua testa se umedecer.





Fazia-se anos, portanto o sentimento era igual ao da primeira vez.





— Saia... Meganium!





E a esfera se abriu, disparando um raio escarlate à frente. Ali, começou a materializar-se uma criatura bela, de pelagem esverdeada e quadrupede, decorada com uma bela rosa envolta de seu pescoço e balançando suas finas antenas douradas do topo de sua cabeça.





— Há quanto tempo, velha amiga! — sua voz já estava embargada pelas emoções, o que piorou após contemplar o brilho alegre no olhar daquela gentil Pokémon.





E após um grunhido alegre e saudoso, Meganium correu ao seu encontro, sendo recebida por um abraço recheado de amor, de um verdadeiro amor, daquele treinador que lhe acompanhou por uma extensa jornada.






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A distração em conjunto da emoção de reencontrar sua velha amiga impediu que Pether notasse um novo individuo adentrando a sala pela porta metálica no fundo da sala.





Contudo, o baque da porta fora o suficiente para lhe acordar e, novamente, lhe surpreender.





Com o andar majestoso e potente, um homem se aproximava. Sua capa preta com o interior vinho balançava em sintonia com a sua caminhada e seus cabelos espetados e ruivos intimidavam qualquer adversário.





Não tardou para o Pether lhe reconhecer. E como não poderia? O homem era aclamado, sua reputação inspirava jovens desbravadores a darem o melhor para, um dia, tentar dominar o posto em que ocupava.





Pether sabia disso e como sabia.





Seus passos se cessam no começo do campo de terra e seus olhos se direcionam precisamente para o homem de sobretudo.





— Pether Morgenstern — sua voz enfática intensificou a atmosfera —, bem-vindo ao seu primeiro desafio — ambos trocam olhares significativos — onde, ao completá-lo, você receberá sua primeira chave do baú. Mas para isso — o ruivo sorri — você vai precisar me derrotar.





Contudo, diferente do que ele esperava, Pether retribui o sorriso com a exata proporção, acrescentando ainda breves risadas em sua expressão. E após se levantar, ele retoma seu olhar ao campo de batalha.





— Fica de olho no Lance, né? — riu novamente. — O desgraçado usou meu próprio título contra mim. Muito bem — ele esboça um sorriso de canto ao desafiador — eu aceito seu desafio. — E recai seu olhar para a Pokémon disposta ao seu lado. — Meganium, vamos batalhar!





— Opa, agora que é minha deixa! — e de repente, uma terceira figura surge da mesma porta metálica, gerando uma careta no Pether.





— Yuuta, você sabe ser um pé no saco quando quer, né? — diz o cara, encarando o mesmo rapaz que lhe aguardava despertar momentos antes. — Estragou todo o momento!





— Ei, eu estou tão infeliz quanto você, então ao menos facilite as coisas! — o rapaz corre até o meio do campo de batalha. — Olá, Sr. Lance, é um prazer conhecê-lo! — pelo caminho, o cumprimentou por meio de um aceno desengonçado, até enfim chegar em sua posição. — Muito bem — inspirou o ar, sentindo sua respiração ligeiramente pesada — eu, Yuuta, serei o juiz dessa batalha!





— O que eu fiz para merecer isso? — Pether inclina seu olhar melancólico ao teto.





Yuuta apenas lhe lança um olhar ríspido antes de prosseguir.





— Nada a protestar — diz Lance, cordialmente.





— Muito bem, treinadores, aproximem-se do campo de batalha! — Pether resolve aderir o comando e se posiciona na outra extremidade do campo. — O desafio pela primeira chave do baú está para começar! Os senhores poderão utilizar apenas um Pokémon e a batalha terminará quando um dos Pokémon de ambos os lados estiver fora de combate! De acordo?





Os dois desafiantes assentem.





— Pois bem! — Yuuta não contia sua êxtase ao efetuar seu papel. — Escolham seus Pokémon!





— Dragonite, vamos! — Lance joga sua Pokébola ao ar e de lá um Pokémon bípede diacrônico e alaranjado se materializa, rugindo bravamente.





— Espero que esse seja o mais fraco — receou Pether. — Meganium, vamos relembrar os velhos tempos? — acariciou o pescoço de sua Pokémon, a qual assentiu veemente e avançou à frente.





— Então... — Yuuta puxa consigo uma caixinha de som e põe ao seu lado. — Que a batalha come-





— Espera, espera, espera! — Pether abana os braços, intrigado. — O que diabos é isso aí?





— Ora, uma caixa de som para a música, ué. De onde você acha que vem as trilhas sonoras das batalhas?





—... Tá. Eu não vou reclamar. — Diz ele e o garoto sorri.





— Então. QUE A BATALHA COMECE!






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— Dragonite, vá para o ar! — o primeiro comando astuto parte de Lance.





O referido gira seu corpo no mesmo lugar, levantando uma camada leve de poeira, enquanto suas asas – pequenas em comparação ao resto do corpo – se abrem e em um único impulso, o Pokémon vai aos céus.





Meganium finca suas patas ao solo sem desviar seu olhar dos movimentos do adversário. Pether também observa com tamanha cautela.





— Agora — Lance estica seu braço à frente e exibe o dedo indicador — Ice Beam!





Dragonite rodopia brevemente no ar e, ao retomar a posição anterior, carrega próximo de seus lábios uma massa gélida e densa.





Poucos segundos após o feito, ele dispara a massa na direção da Pokémon abaixo de si.





Pether sorrir.





— Light Screen! — o comando acompanhou uma arrepiante energia que transitou por todo o seu corpo.





Em meio de um grunhido fervoroso, Meganium ergue levemente a parte frontal de seu corpo, pressionando suas patas ao chão com veemência ao retornar. O ato, de repente, gera uma tela reluzida em um dourado brilhante à sua frente.





A corrente congelante colide com a tela instantes após sua formação e se dissipa para os lados em uma surpreendente eficácia. Ainda que alguns resquícios pudessem ter passado e golpeado Meganium, o dano fora mínimo, já que a potência maior havia sido guiada para as paredes, congelando-as.





— Que ótimo reflexo — elogiou Lance, em meio de um sorriso. — Vamos ver como se sai contra um ataque direto. Dragon Rush, Dragonite!





— Espere... — ordenou Pether.





Uma camada escamosa brilha em um azul escuro e emerge do chifre de Dragonite. Dali, uma massa se esbanja por todo o seu corpo, moldando a forma exata de um dragão. Uma vez domado pela ilusão do dragão azul brilhante, Dragonite ruge e mergulha com seu corpo em direção de Meganium.





Sua velocidade aumenta consideravelmente por conta da queda, enquanto Meganium permanece imóvel, sem recear.





— AGORA RECUE! — ao observar a aproximação exata de Dragonite, Pether brada.





Meganium salta para trás na mesma exatidão de tempo, contudo sua fisionomia não a permite pular com mais longitude. Mesmo assim a precisão ainda era perfeita.





Dragonite colide contra o terreno bruscamente e uma massa bruta de poeira assola todo o ar, enquanto a ventania causada pelo impacto impulsiona a Pokémon tipo grama alguns centímetros para trás.  





— Toxic, Meganium! — Pether não precisava vê-la, não precisava de garantias. Pois ele sabia, sabia que ela conseguiria.





Um novo grunhido ressoa por todo o campo e um resmungo o acompanha. Seguido disso, Dragonite ressurge da cortina de poeira pelo ar, contudo seu rosto não sinalizava uma feição saudável, e sim o oposto.





— Ela conseguiu acertar? — Lance desacreditou. — Aguente firme, Dragonite! Use o Ice Beam!





— Traga-o ao solo, Vine Whip!





Dragonite estava desnorteado, sentia um molejo dominar seu corpo de pouco a pouco. Mesmo assim, focou seu olhar para a densa poeira, a qual sombreia o grande formato da Pokémon quadrupede lhe atravessando.





Embora sua velocidade não favorecesse um ataque ágil e preciso, Meganium persiste em sua corrida até o adversário. Em contrapartida, Dragonite centraliza seu olhar e dispara o feixe gelado contra o corpo da Pokémon.





— Mas o que?!





Tanto Dragonite quanto Lance se surpreendem ao ver a tela brilhante ainda ativa, minimizando o dano do ataque e refletindo-o de maneira em que não interrompesse sua corrida.





Diante disso, Meganium permaneceu avançando, sem hesitar, e ganhou distância o suficiente para liberar duas vinhas das extremidades de seus pescoço.





Lançando-as para cima, a cintura de Dragonite é enlaçada com sucesso e de maneira brutal, Meganium o arremessa direto contra o chão, trazendo mais poeira para a sala.





—Hora de finalizar! — sorriu Pether. — Ancient Power!





Meganium aperta ainda mais o laço, forçando o diafragma de Dragonite a se contrair e imobilizando-o. Nesse meio tempo, ela carrega uma esfera acastanhada à frente da boca, a qual vai ganhando a coloração esverdeada em uma mescla com o vermelho, como se fossem rubis e esmeraldas lhe penetrando.





— DRAGONITE, THUNDER! — o último comando de Lance chega ao coração de Pokémon.





Em seu último berro, Dragonite é preenchido por uma carga massiva de eletricidade, causando o choque necessário nas vinhas para se libertar.





Acima deles, nuvens negras se formam misteriosamente e o Pokémon dispara a onda elétrica nelas. O ataque, contudo, é repelido pelas nuvens e se direciona à Meganium.





E nesse exato momento, a Pokémon herbívora dispara sua esfera multicolor diretamente em Dragonite. E em um conflito cronometrado, os dois ataques explodem em seus respectivos alvos.





A poeira se mistura com uma fumaça decorrente dos poderes e se alastra pelos corpos silenciosos daqueles dois Pokémon. Os dois treinadores não desgrudavam os olhos daquele campo.





— Bom, vamos ver o que aconteceu aqui. — Diz o menino, aproximando-se.





A poluição se dissipava aos poucos e, em poucos minutos, fora possível ver com exatidão a sorridente Meganium de pé, enquanto o lastimável Dragonite repousava de braços apertos ao solo.





— Surpreendentemente, não há dúvidas — Yuuta sorri, após erguer seus dois braços, desce um deles para o lado de Pether. — Dragonite está fora de combate, portanto os vencedores são Pether e Meganium!





Meganium encara seu treinador com os olhinhos brilhando em um misto de alegria e emoção. E diante disso, Pether abre seus braços, preparado para receber o caloroso abraço de sua longa parceira.





— Heey! — o homem ri ao receber o corpo pesado dela. — Nada mal para uma dupla enferrujada, não é? — acariciou suas pelugens verdes, enquanto era retribuído pelas nada sutis esfregadas de cabeça de sua mascote.





Assim era Meganium, ele pensava, bruta e resistente quando precisava e gentil e amorosa sempre que deixava.





— Obrigado por me ajudar, amigo. — Lance retorna Dragonite, sorrindo ao ver a velha dupla comemorando do seu jeito.





— Desculpe pedir para que não usasse seu arsenal de Full Restores. Eu queria que essa batalha terminasse hoje. — Yuuta sorri, cruzando os braços ao lado do Campeão.





Lance ri de leve.





— Não tem problema, foi melhor assim. — O homem se afasta, caminhando em direção do vencedor da partida. — Mandarei lembranças suas para seu primo, acho que ele vai gostar. — Concluiu, enfim, ao acenar para Yuuta.





— Certo, certo. — Respondeu o rapaz, sorrindo.





— Vocês são formidáveis, não esperava ver tamanha força. — Confessou o ruivo assim que alcançou seu destino.





Pether sorri e se levanta, estendendo sua mão.





— Passamos por poucas e boas juntos, então sabemos como nos conectar. — Lance aperta a mão do rapaz. — Obrigado pela batalha, eu confesso que foi muito especial e uma verdadeira honra.





— Eu que agradeço — disse o Campeão. — Foi um prazer e eu pude aprender bastante com vocês. Deveria considerar um dia desafiar a Elite, tem um enorme potencial para isso.





— Nah — o diretor ri. — Eu já sou velho para isso, os meus anos de jornada já terminaram.





— Bom, sendo assim, te vejo novamente quando precisar de mim em mais alguma participação especial — Lance sorri. — E espero por um cachê mais gordo da próxima vez!





— Não garanto nada — retrucou Pether. Lance se afasta aos poucos — Ah, e lembre-se, fique de olho no... er, bem, em você mesmo! — e com tais palavras, o homem retira boas gargalhadas do Campeão, observando-o se retirar pela porta metálica.





— Você sabe ser educado, quem diria! — Yuuta o aguardava escorado na outra porta, sustentando um sorriso sarcástico.





— Sou com quem merece. — Frisou o homem.





Antes de se juntar ao velho amigo de Anne, Pether se vira para Meganium novamente, desta vez com a Pokébola em mãos.





— Nos veremos novamente já, já, ok? — ele acaricia a Pokémon. — Preciso apenas terminar de brincar com esses pés-rapados aqui — Meganium assente em meio um sorriso compreensivo. — Então, até logo, minha amiga!





E o raio vermelho da Pokébola contorna seu corpo, enviando-a para dentro de novo.





— Fatos sobre o Pether: ele virá um molengão quando se trata de Pokémon... — ditou Yuuta, enquanto escrevia em seu caderninho.





— Maldita hora que você foi conseguir se livrar daquele sequestro! — praguejou o homem, ao se aproximar.





Yuuta gargalha e retira do bolso uma chave dourada com um “oito” cravado em sua parte inferior.





— Parabéns, você completou o primeiro dos três desafios e conquistou a primeira chave dourada!





— Três? — Pether arqueia a sobrancelha — Não eram quatro?





— Ah, bem — Yuuta desvia o olhar, sem graça —, recebi a notificação sobre alguns problemas técnicos do quarto desafio, portanto serão só três e a última chave será um brinde.





— Mas que bela organização a de vocês, hein!





— Ah, cala a boca e só me siga!





E ao abrir a porta por qual Pether entrou, Yuuta o empurra de volta para o centro das seis portas.





A primeira coisa a ser analisada pelo diretor fora a porta, antes verde, que agora se encontrava repleta de fitas com o dizer: “interditado”. Fora isso, o local permanecia igual a antes.





— Bem, preciso escolher outra porta então, não é?





Contudo, não obteve respostas. Demorou alguns segundos para Pether notar que estava sozinho, talvez pela insignificância que o rapaz transmitia para si, mas ao perceber, não soube se comemorava ou se emputecia por tê-lo deixado sem outras instruções.





— Bom, que se dane. 





E com os dizeres conclusivos, o homem guarda sua primeira chave no bolso e avança para dentro da porta vermelha, enquanto um novo desafio lhe aguardava.





— Espero que nesse próximo lugar tenha uma cama confortável e nenhum menino de crocs para me importunar. — Seu breve resmungo foi acompanhado por uma cuidadosa limpeza em seus óculos de graus, em prol da ampliação de sua visão.





Ao desembaçar seus olhos pondo-o no lugar, Pether pôde finalmente contemplar o segundo cômodo em que estava.





Ele dá de cara com um corredor repleto de outras portas, todas com um número em si, a luz do ambiente piscada de forma ritmada. Se forçasse a barra, diria que estava em um hotel barato.





— Então ele me levou de volta ao meu alojamento de quinta categoria? Não tinha como eu estar mais feliz. — Todo cheio de esperança, ele acaba achando uma porta ao seu lado, a qual, coincidentemente, possuía o mesmo número do seu quarto anterior. — E lá vamos nó- É o quê? — mas, para sua infelicidade, acaba dando de cara com uma parede de tijolos.





Ele fecha a porta, espera um minuto – em total silêncio – e a abre de novo, na ânsia de que aquela visão fosse mudada para uma paradisíaca suíte com hidromassagem e um closet, mas se encontra com a mesma parede atijolada. Pether se vira e também tenta abrir as outras portas, deixando apenas uma por último, e todas davam na mesma cena.





— Pelo visto a minha equipe de cenário acabou ajudando esses caras. — desanimado, caminha lentamente em direção a última porta — Eu, ao menos, pedia pra deixar algo, como um pôster de uma menina vendada com curvas notáveis, um aviso de serviços empresariais de polimentos e revitalização estética de falos masculinos e, se desse tempo, Frank Sinatra. — ele finalmente chega de frente à porta, mas, quando a abre, teve uma surpresa.





Dentre todas as portas, aquela fora a única que dava em algum lugar. Um corredor transversal com entrada para um banheiro logo da porta foi revelado, xeretando mais para dentro, avistou uma salinha com um sofá e algumas mesas e uma lâmpada funcional que não pulsava a cada tic-tac do relógio.





— Putz, se esse fosse meu apartamento tava bom, aqui é… Quarta categoria! — fechou a porta previamente, visando uma informação — "2108". É claro que é 2108… — após confirmar o número da porta, entra naquela bosta, mas uma bela bosta, de muquifo.





O ar gélido do local traz um desconforto a qualquer um que se encontrasse em seu interior, diversos papéis espalhados e roupas largadas pelo chão compõem tal cenário. Em uma das paredes, vários papéis e pedaços rasgados de jornais estavam anexados em um painel cortiça, alguns interligados por barbantes de cor vermelha, outros aparentando servir apenas para complementar informações.





Do outro lado havia uma mesinha pequena, parecia comportar apenas um laptop mediano e uma caderneta de anotações, mas isso era devido a bagunça que estava mais nas extremidades da mesma, uma lamparina pequena com haste de cotovelo, livros, canecas com fundo marcado por café seco, calendários – cheios de datas marcadas, como o dia nacional do coletor de lixo –, e mais papeis, papeis em todos os lugares.





— Eles invadiram a minha casa e criaram uma réplica? — sua confusão era notável, tudo parecia tão familiar para ele — Menos essa pizza aqui, Suprema de carne? — ele pega uma das fatias requintadas que estava no criado-mudo, olhando com certo desdém — Prefiro frango com catupiry





Jogando o alimento em qualquer canto, volta a analisar o cômodo cautelosamente. Vê uma tevê de tubo pequena, onde estava passando – ou tentando, pois estava estático – um jornal, com uma, diga-se de passagem, bela jornalista. Mas uma das áreas do local lhe chama atenção, mais especificamente no canto.





Lá se encontrava uma estante metálica, com chapas de carvalho para apoiar os itens. Nela se encontrava os mais variados itens, desde uma foto emoldurada de um viajante espacial com um traje branco e azul, com detalhes em verde, com uma expressão totalmente sugestiva, com olhos cerrados e lábios arqueados, contendo um sinônimo informal de fraternidade entre duas pessoas, até um pequeno CD, tendo ao lado um papel informando as faixas dentro dele, com destaque na “3:17 - Orifício dianteiro de tonalidade azulada”.





— Definitivamente invadiram minha casa! — se aproxima, pegando com cautela o tal CD — Espero que não tenham ouvido nada disso, se não, não haveria volta.





Enquanto assobiava uma imitação daquela envolvente trilha de violão, volta a perambular. Resolve deixar aquela paisagem estranhamente familiar e decide se dirigir ao banheiro.





— Eu estou aqui há <5 minutos> e até agora nada, me sinto em um encontro com uma garota real — reclama ao mesmo tempo em que adentra ao banheiro.





Aperta o interruptor próximo ao espelho,  Não era nada charmoso, tinha alguns produtos estéticos, como loções milagrosas e cremes medicinais. Pether, com curiosidade, pega um frasco de loção natural.





— Eu sempre quis experimentar um desses, mas nem ferrando que eu ia pagar por isso! — abre de qualquer jeito, despejando um pouco em sua mão — Se isso estragar ainda a minha cara, eu faço questão de mandar mais um agiota atrás daquele pirralho de crocs e vou pra Alola tomar refresco de tamarindo — por mais que tal fruta não existisse, Pether falou com toda a convicção do mundo.





E, na contagem de 3, ele passa tal composto oleoso em sua face, remexendo pelas suas bochechas, até mesmo manchando a extremidade de seus óculos.





— Ah, até que não é tão ruim e- PELAS BARBAS DO PROFETA! — a ardência, a euforia, a queimação ocasionada pela loção levou Pether aos gritos, correndo em círculos – talvez buscando uma salvação divina para o seu problema.





Quase como um bote de Arbok, Pether se lança de cabeça em direção a torneira da pia, passando a mão nervosamente, quase arranhando, na ânsia de tirar aquele composto o mais rápido possível.





— Ok, eu vou pra Alola E para Kalos! — estava completamente emputecido enquanto se olha no espelho, passando a mão sob seus olhos — Eu sinto como se meus olhos fossem sangrar e parece que eu já vi isso em algum lugar!





No meio de todo aquele fuzuê, o alto e abafado toque de um telefone se inicia, vindo direto da sala em que Pether estava agora pouco. Até pensou em ignorar, mas a possibilidade de ser certo menino com seu uniforme de jaqueta vermelha lhe motivou, no âmbito de lhe lançar umas poucas e boas a respeito daquele ácido, vulgo loção.





Se movimentando na base do ódio, ele vai em direção ao telefone, o pegando sem qualquer delicadeza e, finalmente, o coloca em sua orelha.





— Olá, meu caro Morgenstern, vejo que já está familiarizado com o ambiente! — diz uma voz, aparentemente robotizada e elevada em alguns oitavos, tentando se esforçar para simular um tom intimidante — Mas agora, você terá que passar por- — não conseguiu terminar, pois foi bruscamente interrompido por Pether.





— Escuta aqui, seu agressor da moda alheia, já não basta eu ter que acordar de um simulacro de sequestro e ter que ver a sua cara e você ainda me bota um ácido disfarçado de loção no banheiro? Eu vou te encher de agiotagens marotas!





— Mas… eu não sou o- — mesmo que falasse em tom surpreso, fora interrompido novamente.





— Você é! — com toda essa euforia, olha de lado em direção ao retrato do viajante espacial na estante ao lado.





— Mano… mas eu sou mesmo e- ô droga! — tal exclamação é seguida de alguns bipes aleatórios, confundindo e intrigando Pether — Consegue me ouvir agora?





— Pera, sua voz está menos irritante — após tal observação, Pether se dispõe a pensar — Você não é o Yuuta?





— Deus me livre! — a indignação era clara.





— Esse é dos meus! Mas se você não é ele, então — ainda pensa — Você é aquele menino estranho de jaleco? O Nelson?





— Primeiramente, o nome dele é Neil, e estranho ele é, sim. Segundo, minha voz não tem nada a ver com a dele! — com tal frase, Pether só pôde dar um alto estalar de dedos.





— Já sei! Você é aquela tal de Ayane, a crush do sola-de-borracha!





— NÃO! EU SOU O KAI! — Pether só afastou o telefone de sua orelha, a fim de evitar aquele grito ensurdecedor.





Tentando assimilar fatos com os relatos, buscava em sua mente uma imagem clara de Kai, passou uns segundos até que conseguisse tal feito,  voltou com o aparelho ao seu ouvido.





— Ah sim, o moleque de dreads! E aí, o que manda? — fala como se tivesse esquecido os acontecimentos anteriores.





— Bom, eu ouvi seus gritos e, como planejado, eu teria que te ligar agora para te mandar seu desafio. — explica calmamente a situação.





Pether até se surpreende, pensava que tais detalhes deveriam se manter em segredo para aumentar a imersão da situação, mas nem fala nada por se lembrar com quem estava conversando.





— Entendo, mas saiba que eu não gritei por “seja lá o que foi posto aqui para eu gritar”





— Sério? Putz, bolei esse cenário com tanto carinho — Kai evidencia sua decepção com sua fala desanimada — Nem mesmo achou estranho os papéis na parede?





— Ah, eu acabei nem olhando tanto eles assim — lentamente se aproxima da parede atrás de si, que comportava os tais papéis e pedaços de jornais.





Deu graças pelo telefone ter um longo fio, possibilitando a locomoção por todo o cômodo.





— “O chupacu continua a intrigar os moradores” — Pether lia os primeiros jornais que apareciam em sua visão — “Imagens mostram possível estatura física do chupacu” e, por fim, um desenho fantasioso desse tal chupacu — ele solta uma notável risada com toda essa marmelada, confundindo o garoto do outro lado da linha.





— O que foi?





— Garoto, isso aqui tá pior que os meus roteiros! Se um papel fosse me assustar, esse deveria ser o seu boletim escolar. — Pether continua rindo.





— Olha, eu… — uma breve suspirada foi desferida por Kai, no seu interior, até agradece por ter desconsiderado a ideia de colocar notícias sobre uma vampira de três metros de altura com suas três filhas — Quer saber, ô Jill! — a última frase evidenciava que o menino tomou certa distância do aparelho.





— Jill? — arqueia suas sobrancelhas, desconfiado dessa ação do menino.





— Pode mandar a “coisa”! — assim que termina a fala, Kai desliga a ligação.





Pether apenas observa o telefone, “confuso” era o mais modesto adjetivo que podia defini-lo naquele momento.





— Coisa? Mas que-





Não podia negar que ficou intrigado, toda aquela situação estava toda estranha. Percebeu que, por mais que olhasse em volta, não havia analisado realmente a fundo aquela situação. As janelas estavam entreabertas, isolando a luz lunar – provavelmente artificial – através de persianas horizontais. abaixando uma delas, Pether pôde checar com nitidez a situação do céu, a lua estando em sua fase crescente, com a presença de algumas nuvens tentando a tampar.





— Isso não parece ser da minha equipe de cenários.





Volta sua atenção para dentro e observa com mais cautela o chão, as roupas espalhadas continham algumas manchas vermelhas, seja em sua manga ou na barra do dorso. A lamparina na mesinha começa a piscar repentinamente e as moscas começam a pousar nas fatias malcomidas de pizza.





Às vezes sua visão era voltada para algumas manchas nas paredes, não sabia identificar se era de mofo ou alguma substância que acabou sendo derramada ali.





Leva sua atenção às informações contidas nas papeladas e jornais nas paredes. Tudo parecia perfeitamente interligado, cada caso presente possuía uma informação que contribuía para o entendimento do que é tentado transmitir. Desenhos até que bastante competentes de uma ilusória figura, capturas de tela impressas de relatos online e tudo mais.





— É, acho que vou levar esse garoto para estagiar na Mah Boi. — fala enquanto seguia com os olhos todo aquele caminho formado por barbantes vermelhos — Espero que ele aceite trabalhar em troca de experiência.





Mas, assim que seus olhos são guiados ao canto inferior direito do painel cortiça, algo acaba chamando sua atenção. Arqueando sua sobrancelha, ele avança devagar e pega dois pedaços de jornais.





— “Uma ameaça biológica”? — ele lê o título do primeiro dos pedaços, logo abaixo havia uma silhueta negra, totalmente desfocada, e, ao lado dela, havia uma espécie de placa ou letreiro, não soube identificar — Umbrella?





Logo começa a olhar o outro pedaço, uma imagem um pouco mais definida daquela silhueta pôde ser vista, uma forma humanóide, detentora de músculos avantajados, não podia distinguir cores, mas, curiosamente, tal figura lhe parecia familiar.





— Espera um momento, eu… — conectando as informações vistas com sua mente de marmelo, ele finalmente concluí — Eu conheço esse indivíduo!





Bruscamente, a parede ao seu lado é estilhaçada num piscar de olhos, detritos voaram por todas as partes, alguns menores até acertaram Pether, causando apenas alguns arranhões, mas, devido a força resultante do impacto, o mesmo, desnorteado, acaba caindo no chão.





Conforme a poeira ia se dispersando, a forma do causador de tal ato ia sendo revelada. Pether estava paralisado, não só devido a surpresa, mas também pelo medo. O chão tremia em sincronia aos passos da criatura, ela dava passos lentos e certeiros, amassando todas as roupas e papéis que estavam espalhados pelo chão – quebrando até mesmo um piso ou outro.





— Pela mamãezinha que foi trabalhar e deixou a filha com a Cuca, o que é isso? — suando frio e rangendo seus dentes, Pether não sabia o que faria naquele momento, apenas se resumia a ficar no chão, esperando o pior.





A densa névoa de poeira ainda não havia se dissipado totalmente, devido a onda de choque do impacto, as mínimas luzes do local foram todas devastadas, restando apenas o brilho da lua crescente iluminando o quarto.





Murmúrios eram exalados da boca daquele ser, ele já estava a poucos centímetros de distância de Pether, que fitava o corpo do monstrengo entre o vãos de seus dedos – que estavam, neste momento, tapando seus olhos.





— Ai, ai, meu Arceus, se você estiver me ouvindo, saiba que eu nunca mais vou fazer bullying com crianças alheias, que eu nunca mais irei paquerar mulheres aleatórias e não ficarei mais de arte em banheiros de hospitais públicos! — recita seus pecados em voz alta, visando uma vida póstuma talvez sossegada — Se você me tirar daqui eu prometo que eu serei um ser humano, e- — é interrompido.





Aquele ser humanoide dá uma forte patada no chão, derrubando aquilo o restante das coisas que ainda restavam nas estantes e escrivaninhas. Ela já estava frente a frente com Pether. Se abaixa lentamente, dando apenas para o fracassado diretor sentir o bafo fedorento e quente percorrer pelas suas mãos. Um pequeno feixe de luz lunar invasora conseguiu preencher metade de sua face.





É revelado um rosto totalmente desfigurado, a ausência de olhos e, até mesmo, de lábios tornavam aquela expressão sem vida ainda mais assustadora. Gengivas totalmente podres com dentes – ou o que sobraram deles – amarelados. Aquela carapaça manchada de vermelho-caramelo, indicando que havia se manchado de sangue recentemente. Para alguns, é considerada a própria personificação do inferno.





O cheiro provindo dessa criatura era de incomodar até os menos sensíveis de olfato, uma mistura de barro e poluentes misturado com o sangue velho em excesso embrulha qualquer estômago. E o bafo quente, derretedor de concreto, também marcava presença.





Bafo esse que Pether sentiu percorrer por todo o seu braço, tendo que aguentar ele até que o trajeto da criatura se interrompe, estando eles agora cara a cara.





— Ai papaizinho que foi pra roça, também deixando a filha pra dona Cuca. — se encolhe ainda mais, abraçando sua cabeça e corpo com os braços.





Aos poucos, pôde sentir o monstrengo inalar o ar, como se fosse soltar o mais ensurdecedor dos rugidos, Pether apenas se reduziu a sua insignificância e esperou. E esperou mais, até que.





— STAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARSS!





—AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaa… — o grito mais fino que dara na sua vida ia perdendo a potência conforme escutada o rugido da criatura — STARS? — arqueia a sobrancelha, intrigado.





Até que, com força e coragem, decide abaixar suas mãos – as quais estavam completamente meladas de saliva –. E, abrindo lentamente os olhos, fita a face estragada da criatura.





— Putz, Mano Menezes, é você! — baixa totalmente sua guarda, olhando com um sorriso para a criatura, denominada por ele, Menezes — Há quanto tempo, não?





— Stars. — nem mesmo o mais poliglota pode interpretar o que Nemesis fala, mas Pether faz uma cara de entendido.





— Sim, sim, desde aquele dia no restaurante… err, qual era o nome mesmo? — tanta buscar em suas memórias, mas nada lhe vem à mente.





— STARS! — exala um grito estarrecedor, mas o diretor apenas estala os dedos.





— Isso mesmo! Pé de Guaxinim! — parecendo estar satisfeito, ele deposita sua mão ao ombro da criatura a sua frente — É bom te rever! Agora, pode me ajudar a levantar?





Nemesis não contestou e nem nada, apenas recuperou sua postura ereta e ofereceu sua mão à Pether, que, de prontidão, a agarra.





Ao se levantar, dá algumas batidinhas em suas roupas e faz questão de limpar suas mãos na roupa de Nemesis, que não questiona, apenas fica parado observando.





— Então — olha pelo chão e acha seu querido chapéu, o colocando rapidamente — O que o trás aqui e-





Pether para de falar assim que vira seu olhar para o buraco formado pela aberração natural, e se surpreende ao encontrar Kai ali parado, com o celular virado para frente.





— Ah, qualé, não era para isso acontecer! — incrédulo e um tanto nervoso, ele bloqueia o celular e o guarda no bolso rapidamente.





— Isso o quê, especificamente?





— Bom — de seu outro bolso, ele saca uma pequena caderneta com algumas anotações — De acordo com isso aqui, era pra…





2000 mil anos depois…





— E depois você ia…





— TRUCO! — dando um forte tapa no chão, Pether fala com toda a animação do mundo.





— STARS! — Nemesis apenas lança suas cartas ao chão, completamente bravo, mas não ao ponto de destruir aquele local.





— Vocês não estavam ouvindo nada? — Kai estava totalmente indignado.





— Huh? Ah é, você está aí — Pether recolhe todas as cartas no chão, visando o início de uma nova partida — Eu parei de ouvir no ano 1998, dizem que foi nesse ano que o anticristo nasceu!





Kai apenas guarda a caderneta em seu bolso novamente e se joga no chão, com o olhar distante, Pether apenas olha de relance, embaralhando as cartas para distribuir.





— Olha garoto, se te serve de consolo, não tinha nem chance de eu me assustar com esse carinha aqui, tendo em vista que eu já vi ele de sombrero mexicano — enquanto distribui as cartas pensava sobre o que havia falado — Na verdade isso não consolou em nada, mas o que vale é a intenção!





O moreno apenas leva suas mãos ao topo de sua cabeça, ameaçando arrancar seus dreads violentamente, enquanto murmurava baixinho.





— A Anne vai me matar! — desespero era o que definia aquela pobre criança — E eu nem sei o que fazer com essa gravação sua assustado como um bebezinho e- — enquanto falava, pôde perceber o olhar de Pether, um tanto interessado, para não dizer desconfiado. Um brilho surgiu nos olhos de Kai — e que eu poderia muito bem postar na internet! — sua chantagem parece que deu uma leve alfinetada no falido diretor, porém não tão efetivo quanto imaginava.





— Há! Você quer manchar a minha imagem? Desculpe, amigo, mas chegou atrasado, eu mesmo já fiz isso! — totalmente convencido de sí, ele aponta para o próprio peito com seu polegar, em uma pose heróica, rindo em seguida





— Isso é bem triste, na verdade, MAAAAS um passarinho me contou de uma certa, deixa eu me lembrar… — levando seu polegar e indicador à altura de seu queixo, Kai simulava esquecimento — Amy Thunderbolt? — e isso acabou com as risadas, causando até um engasgo perceptível, o moreno apenas olha de lado, com uma cara marota.





— Você não ousaria — agora eles trocavam olhares cerrados.





— Meu querido Neil é bom em achar perfis de mulheres — cada argumento deixava Pether ainda mais alarmado — E então, podemos fazer um acordo?





Apesar de querer refutar de alguma forma, teve suas asas cortadas de forma efetiva, como a água no fogo. Nemesis estava apenas de canto, tentando devorar um ás de espadas. Mas, depois de pensar um pouco, ele apenas joga suas mãos para cima, indicando desistência.





— Eu realmente preciso chamar você para um estágio. — ele se levanta, não desviando seu olhar de Kai, que se levanta em conjunto — Então Kai marotagens, o que você propõe?





Kai olha de forma tendenciosa para Pether, com um sorriso cínico em sua face.





— Então, eu estava pensando em…





— * —





— Esse lugar ainda me dá calafrios!





Mesmo não sendo o lugar verdadeiro, aquela cópia ainda trazia frias lembranças a Jill Valentine. Aquelas paredes acinzentadas com colunas em estilo greco-romana davam um ar de seriedade ao local. Um piso superior composto apenas por corredores nas extremidades era totalmente visível do térreo. Havia marcas de sangue falso em todo o lugar, sem falar no carro atravessando meio saguão. As siglas R.P.D. logo no arco da estrada identificava aquele lugar, sendo uma versão de cenário da destruída delegacia de Raccon City.





Jill estava alheia, tentando passar o tempo contando a quantidade de pisos quadrados, somar com a quantidade de paredes, dividir pela quantidade de lâmpadas e multiplicar pelos números de degraus nas escadas, mas, nesse meio tempo, lembra que nunca fora boa em matemática, então sempre errava a conta e esse ciclo se repetia eternamente.





— Pensava que gostava desse lugar. — Carlos tentava continuar o assunto, aquele silêncio estava o importunando por dentro — Da última vez até parou bêbada nas ventilações! — vê que sua colega havia dado uma risadinha baixa com seu comentário, o deixando satisfeito.





— Me lembra de nunca mais beber aquela porcaria! — com um belo sorriso em sua face, Jill tem péssimas lembranças daquela ocasião.





— Ah, quéisso, os ratos da ventilação irão sentir sua falta. — suas tentativas de fazer a jovem policial rir estavam sendo mais efetivas do que o planejado.





Carlos só ficava lá, a admirando como bobo. Gostava quando sua companheira não se mantida naquela pose carrancuda e autoritária – apesar de achar um pouco atraente –, gostava de observar seu sorriso, lhe trazia um breve sentimento de paz, ainda mais considerando tudo o que ambos passaram.





— Então, achou o valor da hipotenusa da hipoteca? — brinca com as palavras, buscando saber o resultado da conta matemática mirabolante que Jill almejava fazer.





— Pra ser sincera, tô na dúvida se eu conto as luzes largas como duas ou não! — ela aponta respectivamente para as causadoras da dúvida.





Apesar do comentário, Carlos pareceu ficar pensativo, sem contar um pouco receoso, parecia querer falar algo, mas não sabia se devia, com toda a sua perspicácia, Jill acabou percebendo isso, mas não falou nada, apenas encarou o Oliveira.





— Bom, err… não se esqueça de- err — falhava mais que carro velho, a cada engasgada, era um arranque para a fala final sair, começou a olhar pro chão, evitando um contato visual.





— "De"? — fala de modo sugestivo, deixando implícito sua clara curiosidade a fala não sucedida de Oliveira.





— Caham... Não se esqueça… De contar o brilho dos seus olhos também! — desembrulha suas falas, sendo nada mais que um elogio inocente, ficando um pouco corado logo em seguida.





Jill não sabia o que falar, olhou de certa forma surpresa para o companheiro, não conseguiu esconder o leve rubor em suas bochechas. Carlos ergue seu olhar e fita Valentine, ambos ficam assim por alguns segundos. Mas, em total descontração, Jill começa uma baixinha, mais audível gargalhada, influenciando o outro a fazer o mesmo.





— E eu pensando que latinos flertavam bem! — fala em meio a gargalhadas.





— Bom, eu fiz o melhor de pude. — jogando as cartas à mesa, Carlos perde sua vergonha e continua a rir.





— Relaxa, ainda foi fofo, gozado, mais fofo. — consola o rapaz, vendo que o mesmo deu uma leve engasgada, ela só pôde rir mais alto.





Carlos até falaria algo ou tentaria alguma piada enfadonha, mas fora interrompido por um barulho de telefone, sendo ele de Jill. Dando uma última olhada marota para Oliveira, a jovem policial se vira e se afasta um pouco, atendendo pôr fim a ligação.





— Ai, papai, um dia essa mulher me mata! — se dispõe a se sentar no chão gelado daquela delegacia, pensando sobre a vida.





— Alô, Jill, como estão indo as coisas? — com uma voz doce como adoçante, a remetente da chamada se trata de Anne.





— Então, não está indo. — apoia sua mão na cintura, aparenta estar neutra com a situação.





— Ué. Como assim? — sua confusão era clara, Jill apenas solta um suspiro cansado e começa a falar.





— Acho que faz uns 10 minutos que o… esqueci o nome dele — Valentine coça a nuca, se esforçando para se lembrar o nome do indivíduo — Kevin, eu acho, saiu pra verificar se o Pether já havia se assustado, mijado nas calças e tudo mais que ele afirmou que iria acontecer naquela caderneta maluca dele, e até agora não voltou.





— Ai, meu deus! — agora fora a vez de Anne em soltar um breve e cansado suspiro.





— Deve ter se perdido no caminho! — diz uma voz vindo do além.





— Concordo com o quatro-olhos! E é incrível que eu me lembre da voz dele.





— Você pode, por favor, ir conferir para mim, Jill? — aparentando bem mais desespero do que qualquer coisa, Anne faz tal pedido a outra.





— Bom, fazer o quê, né? Estou sendo paga pra isso! — sem se despedir nem nada, ela desliga o telefone, o guardando em seguida — Carlos! Eu já volto! — fala já se encaminhando pra porta.





— Vai ver se o Kai ainda está vivo?





— Kai?





— * —





— Eu jurava que o nome dele era Kevin.





Jill caminhava pelas artesanais ruas da cidade fictícia, as vezes parava para admirar alguns detalhes, como uma roda de carro totalmente amassada, algumas placas tortas, o efeito da luz lunar – a qual achou muito boa – e algumas pichações presentes em alguma paredes.





— "Lava-se pintos em domicílio"? — recita a frase que mais lhe chamou atenção, um pouco incrédula com o que lera — Esse menino é estranho mesmo.





Aos poucos se aproximava do falso apartamento, não podia negar que aquele cenário causava calafrios, mas se esforçava para deixar o passado no passado.





Começa a subir alguns lances de escadas, cada vez mais se aproximava do local. Mas, a centímetros da porta, sua caminhada é interrompida.





— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! — um grito ensurdecedor resolva do apartamento de número 2108, Jill logo se lembra que aquele era o local combinado.





— Esse grito fino é do Pether, sem dúvidas! — direciona sua mão em direção maçaneta — Ele está o assustando por mais de 10 minutos? Esse garoto ganhou alguns pontos comigo!





Gira sem cuidado a maçaneta, adentrando sem mais nem menos no local, assim que viu o banheiro sentiu uma coçeira em seus olhos, mas nada para lhe incomodar muito. Mas, assim que se virou em direção à sala, ficou sem palavras.





— Acho que se vocês fossem mais pra iluminação da lua, daria pra revelar mais sua cara de desespero. — com um celular apontado para frente, Kai gesticulava posições e a iluminação proveniente das frestas da janela.





— Escuta aqui, seu uga uga, eu admiro a sua dedicação à filmagem de uma cena como essa. — Pether estava sob Nemesis, mas sua expressão não era nada boa, impaciência mesclado a irritação — Mas essa é a sétima gravação que fazemos e minha cara já está grudando com o tanto de saliva que esse grandão tá lançando pra cima de mim — aponta para o Mano Menezes, que concorda com as falas do diretor.





— Stars.





— Tá vendo? A garganta dele está até doendo, e eu nem sabia que isso era possível!





— Bom, eu estou tentando ao máximo aqui fazer a cena que cause aflição até o mais duro dos corações! — faz uma pose heróica, levando sua palma às alturas — Aliás, como você entende esse cara? Ele só fala "Stars!" — estava se coçando há tempos para fazer tal pergunta.





— Ah, foi a Jill que me ensinou e-





— Só podem estar de brincadeira! — com o volume mais alto e indignado que podia emitir, Jill, embrabecida, exclama em direção aos três senhores.





— E falando no demônio — mesmo tentando sussurrar, ela ouviu o murmúrio de Pether e lhe lançar um olhar assassino, reduzindo o homem à sua insignificância.





Os três patetas não sabiam o que falar, apenas se olhavam e olhavam a Jill, aqueles olhos famintos por uma explicação foram contratados com a batidinha de pé dela, indicando impaciência.





— Vamos! Quero uma explicação!





— Olha mamãe, a culpa não foi minha, foi o do cabelo de cipó ali — Pether, de prontidão, já tira o seu da reta, apontando nervosamente para Kai, que não sabia o que dizer.





Nemesis se levanta, ajudando o outro a levantar também – quase esmagando a mão dele no processo, devido ao nervosismo – e ergue Kai, o colocando em frente à Jill, que apenas o olha irritada.





— Stars!





— Tiveram que repetir isso sete vezes? — a expressão da moça só se torna ainda mais carrancuda, se controlando para não dar meia volta e buscar certa bazuca.





— Como o Carlos acha essa cara atraente? — um pouco mais distante, Pether falava o mais baixo o possível, visando que Jill não o ouvisse.





— Bom, é que- err, sabe, ele não se-





— Assustou? Claro que não, né, seu mané! Ele já viu essa cara de sombreiro mexicano!





Pether, mentalmente, concorda com cada palavra que ela dizia, estando com a maior felicidade de não ser ele no lugar do moreno.





— Mas isso não teria acontecido se não fosse esse sombreiro enxerido e aquele ¡LA CUCA RACHA! ritmado! — tentando arrumar alguma desculpa para aliviar sua barra perante a irritada policial.





Massageando suas têmporas, controlando sua raiva ao máximo, Jill inspira e expira, se acalmando aos poucos. Kai apenas observava quieto, pois, ao mesmo tempo que próximo a ele havia uma bomba relógio, uma máquina de destruição em massa capaz de derrubar uma parede se bem quisesse, atrás estava Nemesis, que não o deixaria escapar.





Pether estava remexendo as gavetas e estantes a procura de algo para se deliciar, já que o ser do além não lhe cedeu pipocas para observar a cena.





— Ok, vamos fazer assim, fingimos que nada aconteceu e vamos levar essa outra mula para o desafio dele, aí damos a “coisa” pra ele e todo mundo sai feliz, ok? — propôs a mulher, na maior calmaria que podia falar naquele momento. Mas a reação de Kai não foi bem o que esperava.





— Err… então, com- caham. Como eu posso dizer isso… — no meio de seu limitado vocabulário japonês – traduzido diretamente para português –, o garoto não encontra palavras, orações, sílabas, sentenças e nem verbos para dizer a Jill, o que já estava a preocupando.





— Tá falando do desafio de encontrar três pedrinhas brilhantes para colocar em caixas formosas? — Pether ainda remexia nas coisas soltas pelo local, Jill apenas olha desconfiada — Do desafio de caminhar por essa cidade de papel machê para procurar chaves para um cofre? — a policial já começa a encarar feio o menino dos dreads novamente, que apenas dá um sorriso nervoso — Ou está falando do meu favorito até o momento, que é examinar uma amostra de água em uma máquina estapafúrdia lá. Confesso que se eu pegasse uma amostra envenenada, jogaria na cara daquele Yuuta e- — embora quisesse expelir sua vingança contra o garoto de jaqueta vermelha, fora interrompido bruscamente.





— Primeiramente, não é assim que funciona esse último desafio. E principalmente, COMO DIABOS VOCÊ SABE DISSO? — disse com ódio à flor da pele e deduções para a resposta que viria.





— Bom, no meio do monólogo de sofrência desse rapazinho aí, ele acabou citando os três desafios que eu teria que passar — ficou observando um pedaço de pizza, se sentiu tentado a uma mordida, mas não sabia se aquilo era fictício ou real, já que não exalava nenhum odor — Se não me engano, foi por volta do ano 1985, ano de criação do meu estúdio rival!





Jill estava incrédula, não sabia nem o que falar, havia dado seu precioso – na medida do possível – tempo para ajudar naquele projeto, por mais que a mesma estivesse sendo paga para isso, não pôde esconder seu nervosismo, sua cabeça estava quase pegando fogo, bicho.





Ela olha mortalmente para Kai, que não sabia onde enfiar a cara.





— Ok, você! — aponta para o diretor mentecapto enquanto mexia em seu bolso procurando algo, o referido olha para ela e joga aquela massa duvidosa no chão — Pegue isso e vá embora! — arremessa um objeto brilhante em direção a ele.





Com agilidade – antes que acertasse sua face, ele agarra o objeto, sendo nada mais nada menos que a aclamada chave dourada.





— Sim senhora!





— E você, seu peste! — agora aponta para Kai, que estava quase se escondendo dentro dele mesmo — Você vem comigo! Vamos conversar um pouco. Pega ele Nemesis!





— STARS! — em um movimento rápido, o monstrengo agarra o jovem rapaz, que se remexe, almejando sua liberdade.





— NÃO! NÃO! ME SOLTA! SOCORRO! — enquanto gritava, era levado para fora do apartamento.





Pether apenas ficou lá parado, observando a sucessão de eventos. Não sabia o que falar, olhava para o chão e as paredes, até mesmo para o enorme buraco formado. E, por último, observa a chave em sua mão, vendo que o número cravado nela é o 1.





— Bom, ok então! — se aproxima da estante e faz questão de pegar o CD que continha aquela memorável faixa de três minutos e dezessete segundos — Espero que eu tenha deixado um cartão de visitas com o garoto. Esse aí tem futuro! — e, ao parafrasear certo jogo de tiro em primeira pessoa famoso, ele se dirige à saída do local.





— * —





— E aí, como foi? — Yuuta pergunta curioso ao homem que acabara de sair da porta.





— Cara, foi uma loucura, rolou umas pizzas estragadas, um quadro aterrorizante com informações de um tal de chupacu e, por incrível que pareça, o Nemesis me assustou feito um bebê! — Pether, com toda a atuação que aprendeu com seus vários anos na indústria do audiovisual, relata sua experiência ao garoto de crocs, que o observa incrédulo.





— Sério? Num pode c'! — Yuuta estava com seus olhos esbugalhados, realmente não acreditava no que ouviu — Eu jurava que você não ia se assustar em nada, considerando que você já viu o Nemesis de sombrero mexicano. Você não está mentindo pra mim, né?





— Eu sou homem que cumpre com a minha palavra, meu jovem idiota! — ajeita suas roupas, tentando desamassar, mas sendo em vão — Tem até vídeo, depois o Kai te mostra! Ah, e provavelmente ele vai precisar de um médico. — tal fala deixa o amante de crocs confuso.





— Por quê?





— Vish, nem te conto!





E não contou.





— Bom, de qualquer jeito — Yuuta se espreguiça. — Seu terceiro e último desafio lhe espera. — Apontou para a porta roxa.





   — Fala sério, o que mais me falta acontecer? — resmungou Pether, encarando a segunda chave conquistada.





Quando buscou o rosto do adolescente pateta, deu-se conta que, novamente, encontrava-se sozinho naquela sala repleta de portas.





— Como diabos ele faz isso? — Suspirou ao guardar o objeto no bolso de seu sobretudo.





Ajeitou o chapéu, guiando-se para a última porta que guardava seu desafio.





Provavelmente perdera um dia completo de gravações por conta dessa brincadeira anual, e com toda certeza seria cobrado por isso.





— Espero que esse presente seja, no mínimo, uma TekPix — segurou a maçaneta da porta, sentindo um leve embrulho no estômago. — Batalha Pokémon, tentativas fajutas de me assustar. Vamos ver o que me espera agora.





E ele adentra ao último desafio.





De cara, se depara com um estreito corredor mal iluminado, sendo o suficiente para lhe intrigar.





— De novo joguinho de terror? Tá faltando originalidade aqui, hein! — reclamou para as paredes, caminhando com certa cautela.





Uma luz mais forte podia ser vista no fim do corredor, forte o bastante para ofuscar o quer que estivesse daquele lado. Portanto, sem escolhas melhores, Pether avança





O único som recorrente era de seus passos alternados naquele piso de metal, até que, conforme ele se aproximava, uma música começa a ressoar em seus ouvidos.





| ➤ ♪





Silvio Santos vem aí (1:03)





— Mas não pode ser. — Os olhos de Pether se esbulham ao ponto de ele travar seus passos.





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





Lá, lá, lá, lá, lá, lá! —





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





Lá, lá, lá, lá, lá, lá! —





— Agora é hora





De alegria —





— Vamos sorrir e cantar





— Do mundo não se leva nada!





— Vamos sorrir e cantar!





 — Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





Lá, lá, lá, lá, lá, lá! —





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





(Hey!) —





— Lá! Lá! Lá!





Lá, lá, lá, lá, lá, lá! —





— Sylveon Santos vem aí!





Olê, olê, olá! —





— Sylveon Santos vem aí!





Olê, olê, olá! —





— Sylveon Santos vem aíííí!





— Aêêê! Ma’h quem é — a voz reforçada pelo microfone faz Pether boquiabrir-se — que eu vou chamar?





E o coral de “euuu” fora o mais esperado de toda aquela surpresa.





— Eu não acredito nisso — cabisbaixo, Pether murmura. — Eles copiaram a trilha sonora que eu penei para achar na maior cara de pau? É sério isso?! — esbravejou, no ápice de sua indignação. — Eu espero que esse velho tenha cobrado muito para estar aqui!





E em passos pesados, Pether atravessa o corredor e confronta a luz ofuscante.





— Olha o aviãozinhoo!





Ao finalmente acostumar sua visão, Pether contempla o enorme estúdio recheado de pessoas em plateias enfileiradas – em sua grande maioria sendo mulheres.





Sua aparição não fora despercebida e o apresentador o encara com um sorriso receptivo em sua face.





— Oh, ele chegou! — em seus passos calmos e peculiares, o homem sai da fileira de plateia. — Vem pra cá! Vem pra cá!





Pether aponta para si mesmo, um tanto desconcertado. O carismático apresentador assente duas vezes e o homem de sobretudo se aproxima, sentindo-se como uma criança perto de seu ídolo.





— Bom vê-lo de novo, meu jovem rapaz. — Sylveon Santos executa dois tapinhas no ombro de Pether, que sorri.





— O senhor é o único dos palermas que eu encontrei hoje que tem propriedade para me chamar de jovem. — O mais velho ri do comentário.





— Bom, vamos direto ao ponto, pois já, já você deverá ceder o palco para minha belíssima Helen Ganzarolli, sim?





— Ceder o palco? Eu vou ficar aqui?





— Claro! Afinal, você é nosso convidado especial para o novo jogo chamado: “conquiste sua chave!”





Junto da salva de palmas da plateia, Pether contempla um telão com o nome enfatizado:





“CONQUISTE SUA CHAVE!”





Com Pether Morgenstern





Logo abaixo, uma cadeira espumada é disputa juntamente com uma mesa contendo quatro botões enfileirados de A à D.





— Pois então, Pether, senta lá! Senta lá! — atendendo ao comando do apresentador, Pether se aconchega na cadeira. — O desafio é simples, garoto, você deverá acertar corretamente todas as cinco perguntas para conquistar a sua terceira e quarta chave!





Novamente, uma salva de palmas programada ressoa junto com exclamações.





— Pronto para seu desafio?





— Vindo do senhor, sempre! Darei o meu melhor!





E o letreiro da plateia os influenciam a exclamar um “MANO?”.





Dos raros momentos em que Pether pudera ser visto ruborizado, aquele sem dúvidas era um deles.





— Aquele Yuuta ainda tá aqui, não tá? — indagou o homem, constrangido, olhando para os lados.





— Primeira pergunta na tela! Olha lá!





E o enorme telão se abre com a sentença e as opções:





“A inflação refere-se a um aumento contínuo e generalizado dos preços em uma economia. As decisões tomadas pelo governo norte-americano de 1981 a 1985 recuperaram o tripé que sustenta os EUA como principal potência mundial: liderança econômica, em especial na alta tecnologia, e o dólar como principal moeda de reserva.





Utilizando o dólar de base, no seriado "Todo Mundo Odeia o Chris", conhecemos o personagem Julius, dito como o pai do protagonista. Lá, ele demonstra um vasto conhecimento no custo de produtos dos mais variados, indo de alimentos à eletrodomésticos.





Analise as questões abaixo e identifique a frase que está ERRADA:





(A) ‘São 99 centavos de leite derramado na minha mesa. Alguém vai ter que beber esse leite!’





(B) ‘Tire esse relógio da tomada, garoto. Você não consegue ver a hora enquanto dorme! São 2 centavos a hora!’





(C) ‘2 dólares pegaram fogo!’





(D) ‘Eu sei que você não vai jogar o mingau fora, come aí! A aveia custou 30 centavos.’”





Pether não pôde segurar a gargalhada após o final da pergunta. Era inesperada, mas longe de ser fácil.





— Vocês realmente pegaram pesado, hein? — o rapaz massageia suas têmporas, relendo a questão.





— Trinta segundos na tela! — anunciou Sylveon Santos.





— Isso tá realmente difícil. Digo, sem dúvidas dois dólares pegaram fogo e ninguém sonharia de jogar o mingau fora! — Pether encosta as costas na cadeira. — E não tem como esquecer os noventa e nove centavos de lei- espera um minuto. — O tempo marcava os últimos dez segundos. — É a alternativa A! — e por um impulso extasiado, ele soca o botão referente à letra A.





— Alternativa A marcada. Ele acertou? — e após três segundos de suspense, o telão exibe um grande joinha. — Muito bem!





E outra salva de palmas é efetuada.





— Conta para nós, como descobriu, meu rapaz? — adotando a clássica pose com os dedos entrelaçados à frente do corpo, Sylveon pergunta.





— Ora, uma gafe dessa deveria ser motivo de prisão! — exasperou Pether. — O Julius infartaria se noventa e nove centavos de leite caíssem na mesa, mas os quarenta e nova ele conseguiu suportar.





— Muito bem, muito bem! — Sylveon Santos sorri. — Uma já foi, faltam quatro! Então, pergunta no telão!





“Memórias nos marcam desde o nascimento até o último suspiro, por conta disso, possuímos momentos significativos em nossas vidas que são sempre engatilhados e relembrados, seja por um bom motivo ou um mal motivo. E diante disso, uma lembrança traumatizante assombra até hoje a memória de um morador da Fenda do Biquíni e vejamos se ela foi ou não memorável para você, então responda:





Qual o dia em que o Seu Sirigueijo seria frito?





(A) 09 de outubro





(B) 25 de maio





(C) 14 de março





(D) 21 de agosto”





— Muito bem, tempo na te- — antes do pronunciar de Sylveon, o barulho estrondeante do botão ressoa pelo estúdio. — Mas já?





— Hum? — Pether interpreta a questão como retórica, contudo logo percebe a genuína incredulidade do apresentador. — Ah, mas é claro! Seria vergonhoso para mim não responder isso em pelo menos dois segundos.





— Er, ok... — ainda desconcertado, Sylveon Santos ajeita seu paletó formoso — Então, ele acertou?





O telão identificava a alternativa C como a escolhida e, após alguns segundos um enorme joinha aparece.





— Francamente, eu me sinto ofendido por cogitarem a chance de eu errar isso. — Durante as palmas, Pether reclama. — Nunca confundiria o dia de Leif Erikson com o dia que o Seu Sirigueijo ia ser fritado, tampouco o meu aniversário ou o aniversário daquele bocó.





— Bom, bom, sempre tem uma fácil — disse Sylveon, sem graça. — Mas de todo jeito, pronto para a terceira pergunta?





— Antes disso, eu tenho alguma ajuda caso seja uma pergunta muito difícil?





— Ah! — Sylveon alarga o sorriso. — Que bom que perguntou isso! Terá sim, você poderá pedir ajuda para seus Padrinhos Mágicos!





— Ah, compreen- espera, é o que? — o rapaz se inclina na mesa. — Meus Padrinhos Mágicos?





— Você saberá quando necessitar deles! — diz o apresentador. — Então, pronto para a terceira?





— Simborá. — Pether entala os dedos, de olho no telão.





— Pergunta na tela!





“Jogos FPS são gêneros de jogos de artilharia, em que controlamos o personagem em primeira pessoa, comandando através de seu ponto de visão.





Se coloque na seguinte situação. Um personagem de um jogo FPS com movimentos inspirados em anfíbios, capaz de efetuar pulos sistemático nas paredes, possuidor de uma artilharia capaz de disparar projéteis de som potentes e até mesmo dispersões sonoras, capaz de empurrar seus adversários. Ao ver tal personagem avançando para a linha de fogo inimiga sem possuir nenhum tipo de apoio ou companhia, qual a oração mais adequada para lhe chamar:





(A) Lucio is throwing





(B) LCUIO





(C) Tank Lucio





(D) 0 heal Lucio"





  — O cara que formulou essas perguntas possui um gosto excelente. — Comentou Pether sorrindo. — Aah, meus tempos de joguinho. Saudades da época em que eu era desocupado para poder jogar o dia todo.





— Tempo na tela! — anunciou o Sylveon.





— Ah, mas já? Nem pude terminar meus pensamentos nostálgicos. — Frustrado, Pether pressiona o segundo botão. — A resposta é B, com toda certeza.





— Ele acertou? — e o suspense do telão deixa todos vidrados até que o joinha aparece. — Muito bem! Muito bem!





E as palmas são bem recebidas.





— Até agora tá mamão com açúcar! — esnobou o rapaz, cruzando os braços. — Quando as difíceis virão?





— Bom, vamos ver como você se sairá nessa. Pergunta na tela!





"Eu sei que mudanças podem ser assustadoras. Mas faz parte do crescimento. É assim que descobrimos como somos e o que vamos ser."

CYRUS, Miley





"Na história "I Hate Everything About You", acompanhamos a trajetória de diversos jovens, mas tem um que acaba se destacando. Passando por desilusões, decepções e medos, consegue dar a volta por cima, não esquecendo do seu passado, mas sim aprendendo com ele e crescendo muito como personagem. Dito como o "MELHOR PERSONAGEM DA HISTÓRIA", de quem a pergunta está falando?





(A) Black Hilbert Touya





(B) Hilbert Touya





(C) BRAVO! BRAVO! BRAVÍSSIMO!





(D) Eusine”





Os olhos de Pether se arregalam perante o questionamento.





— Olha, eu — o rapaz intercala seu olhar entre os botões, sentindo uma gota solitária de suor descer pela sua testa. — Os Padrinhos Mágicos! Quero os Padrinhos Mágicos!





— Que venham os Padrinhos Mágicos!





Os olhos do rapaz reluziram em uma empolgação notavelmente antiga e suas pupilas rodam de um lado para o outro a procura de cabelos rosas e verdes.





Contudo, a realidade tende a decepcionar.





— Oi! Eu sou o Padrinho Pether-Anjinho!





Eu sou o Pether-Diabinho. —





Realmente como mágica, duas mini criaturas semelhantes com o diretor surgem ao lado de seus ombros. O do lado esquerdo vestia um manto branco, enquanto se sustentava por suas asas angelicais. O do lado direito, por sua vez, destacava-se pelo seu manto negro e asas diabólicas. Ambos utilizavam dois utensílios em comum, sendo eles um tapa olho e um martelo de borracha vermelho.





Suas personalidades condiziam com a caracterização. O Pether-Anjinho exiba sua feição gentil e sorridente, enquanto o Pether-Diabinho encarava todos com a feição carrancuda.





A mesma feição carrancuda que o Pether original fazia.





— Vocês estão de sacanagem com minha cara, não é? — exclamou o homem. — Eu sou meus próprios Padrinhos Mágicos? Não, não, mais importante: como vocês fizeram isso?!





— Na verdade, você é o Demétrio, cara — Retrucou o Diabinho. Antes do Pether contestar, fora interrompido.





— Efeitos especiais podem surpreender as vezes. — Disse o Pether-Anjinho e o diretor pôde notar que era uma dublagem, já que a voz não era parecida com a sua.





— Trinta segundos! — anunciou Sylveon Santos, como se não presenciasse a cena bizarra.





— Certo, certo. Depois eu pergunto mais sobre essa bizarrice, vamos ao principal problema. Que alternativa eu escolho?





— Ora, Pether — bradou o Anjinho. — Nós seriamos péssimos padrinhos se déssemos a resposta assim, de mão beijada. Você precisa aprender a-





O pequeno Pether de asas angélicas fora calado com a martelada desferida pelo Pether-Diabinho.





— Obrigado, eu já ia pedir para você fazer isso.





— Marca o Eusine. — O Diabinho aponta para a letra D.





— Ah, certo, então- espera, Eusine? — o diretor arqueia a sobrancelha. — Isso tá muito errado.





— Confia, porra!





— Eu sei que ele é requerido, mas nem de longe é o melhor.





A face do Pether-Diabinho fica vermelha de raiva.





— Já disse, confia, po- — em uma retribuição acentuada, o Pether-Anjinha interrompe a fala do seu colega de trabalho com uma martelada certeira, fazendo-o rodopiar pelo ar.





— Dez segundos!





— Pether, inspiração para o que sou, siga o seu coração! — recheado de bondade e altruísmo, o Anjinho filosofa. — Utilize do seu carinho para intitular o nome daquele que foi o melhor.





— Três segundos...





— Vocês não estão ajudando em nada!





— Dois segundos...





Eusine, porra! —





— Use o coração!





— Um segundo...





— Aaah! OK! — e no milésimo restante, Pether pressiona com força o botão.





Um silencio tenso ocorre por toda a plateia, enquanto o telão processava a resposta. O coração de Pether estava disparado e o próprio arfava sem desgrudar os olhos da imagem de loading...





Até que...





O joinha aparece.





— Resposta correta! “BRAVO! BRAVO! BRAVÍSSIMO!” é o personagem representado!





E um alívio extremo percorre o corpo do participante.





— Viu, eu disse para seguir seu coração. — O Pether-Anjinho estufa o peito, orgulho, após dar outra martelada na cabeça de seu companheiro. 





Pether apenas abana a mão, ainda incapaz de falar.





— Bem, Padrinhos Mágicos, obrigado pela participação de vocês. Podem se retirar. — Acatando o comando do Sylveon Santos, os dois personagens se dissolvem como mágico. — Muito bem, Pether, se ajeite na cadeira e se prepare para sua última pergunta!





Atendendo ao pedido, Pether corrige sua postura, descansando seus braços nos braços da cadeira.





— Agora, podem fechar! — e após a ordenança, os braços da cadeira revelam fivelas de ferro que se fecham automaticamente no punho do rapaz.





— Hein? — Pether tenta se locomover, contudo o ato se torna inútil.





— Pois bem, meu caro — o Sylveon Santos mantém seu sorriso. — A última pergunta é...





O telão some e Pether fica cara-a-cara com o seu ídolo de infância.





— A dúvida jamais respondida...





O diretor engole seco, sem saber como reagir.





— O segredo guardado a sete chaves...





Ao respirar fundo, ele volta a encarar o homem.





— Qual é... a receita da sua torta de batata doce?





Pether boquiabriu-se e seu olhar intimidado se converteu a um afrontoso.





— Você terá que me matar primeiro...





— Tá bom. — Sylveon deu de ombros.





— Isso, exatamen- é o que? — o semblante esnobe dele se modifica para um aterrorizado.





Sylveon Santos se afasta e no mesmo instante toda a plateia se levanta.





— E-espera, era brincadeira! Me tira daqui! Me tira daqui!





Ele começa a se remexer, até que as pessoas passam a lançar objetos aleatórios nele – tomates, papeis higiênicos, chinelos crocs e até CDs da edição Xuxa para Baixinhos 11.





— Ei! Cuidado com isso aí! — incapacitado de agir, o Morgenstern apenas torcia para não ser acertado. — Há, vocês são muito rui-





Até que uma frigideira lhe acerta no meio da testa e sua vista logo escurecesse.





— * —





— Ai, ai, ai! — o desperto abrupto de Pether trouxe consequências para o latejo de sua cabeça.





Desnorteado, ele se senta, cobrindo o local atingido com a mão.





— Segunda vez já, bicho! — resmungou. — Onde eu estou agora?





Ao olhar em volta, deparou-se com a mesma sala repleta de portas e com o famigerado baú logo ao seu lado. Contudo, desta vez com um detalhe a mais.





— Mas ué. Eu ganhei?





Pether estava de frente para as quatro chaves que tanto buscava. Todas revestidas em ouro e cravadas com números, sequenciando 0, 1, 2 e 8. Ao lado da chave, encontrava-se um pequeno papel.





— “Ponha as chaves em ordem e descubra o seu presente.” — Leu Pether ao pegar o bilhete. — Em ordem? — ele averigua novamente os itens e franze a testa. — Ué, mas já está em ordem numérica. Ah, mas realmente não faz sentido pular do dois para o oito e- ah, nossa. — Por um instante, Pether sentiu-se tão estupido que considerou comparar-se ao Yuuta, mas não era para tanto.





Entendendo a lógica da situação, o rapaz recolhe as chaves e se arrasta até o baú, parando de frente às fechaduras. Nisso, ele encaixa a chave número 2 na primeira fechadura, seguido do 1, 0 e, enfim, o 8.





— 2108, né? — riu para si mesmo e girou as quatro chaves, ouvindo sequencialmente os clicks do baú.





Ao retirar o encaixe, Pether abre a parte superior do objeto e seus olhos brilham em curiosidade.





— Então, o que temos aqui... — e ao enfiar a mão dentro do objeto, ele segura um papel plastificado, puxando-o para fora. — Hum?





E neste papel, vinha as escrituras:





CERTIFICADO OFICIAL

Pether Morgenstern, é com muita alegria que viemos anunciar, por meio desse documento formal, a sua conquista anual de conceber o título de Ovo. Portanto, oficialmente, hoje e apenas no dia de hoje, pelo resto de seus anos, você é o Ovo!




Atenciosamente: A Direção.





Era simples e idiota, contudo retirou gargalhadas do homem em questão. Pether relanceia seus olhos novamente ao baú e se intriga com um objeto brilhante do lado de dentro.





— O que é isso? — esticou o braço e alcançou o objeto, tratando-se de uma chave prateada. — Ah não, outra chave? Tem mais desafios?!





Embora suas indagações fossem válidas, ninguém se encontrava por perto para respondê-las.





— Seis... — o homem analisa a chave e, ao erguer seu olhar, confronta a única porta não modificada naquela sala.





A sexta porta de tintura laranja.





Sem qualquer outra ideia em mente, Pether se afasta do baú e caminha até a porta. Encaixou a chave de imediato e, ao girar, pôde sorrir ao ouvi-la destrancar.





— Vamos ver o que vai acontecer ago-





— SURPRESAAAAAAAAAA!





E a ao abrir a porta, a sala escura se acende e um sorriso contagiado assola a face do Morgenstern.





A sala espaçosa abrigava dezenas de pessoas, as quais todas lhe olhavam com os braços erguidos e os melhores sorrisos. Mesas eram dispostas com guloseimas e bebidas, uma decoração baseada em recortes e itens festivos encontravam-se espalhados e uma enorme faixa continha os dizeres:





“MEIA-NOITE, HORÁRIO OFICIAL DO ÓLEO DE MACACO!

Ps: e do aniversário do Pether também.”




Anne é a primeira a se aproximar dentre todos e o abraça com vontade.





— Feliz aniversário, Pether!





E um coral de felicitações ressoa atrás dela.





Era significativo, tanto que ele nem conseguia calcular. As idiotices, o sequestro, as interações, tudo moraria eternamente em sua memória – e olha que memória boa é sua virtude.





Contemplou com emoção cada rosto ali presente. Riu por dentro ao ver uma acirrada disputa de truco entre Nêmesis e Brock, o qual o mostrengo levava a melhor e maliciou a conversa descontraída entre Jill e Carlos em um canto da festa.





Do outro lado, divertiu seus olhos com o jovem e ofensor da moda Yuuta correndo de um grandalhão de rosto verde, sobretudo e chapéu preto.





— EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI QUEM É VOCÊ! — era o que ele falava.





Kai divertia-se com Max em uma brincadeira de tiro-ao-alvo, sendo supervisionado por Neil e tendo Ash na torcida. Já no outro canto, Clary, Ayane e May conversavam amistosamente enquanto aproveitavam do delicioso ponche.





— Mas isso foi uma bela de uma aventura, hein. — Sorriu de canto para Anne.





— Depois que a Sra. Clary me disse que sequestrava você nos seus aniversários, conversei com os meninos e a gente precisava por isso em prática de novo. Valeu a pena o trabalho. — Piscou para o rapaz que riu.





— Bom, acho que agora só me resta fazer uma coisa... poderia chamar a atenção deles para mim, por favor?





— Claro — e ao encher os pulmões de ar, Anne grita. — PESSOAL, O PETHER QUER FALAR ALGO!





E todos os olhos recaem ao homem de sobretudo e chapéu – até mesmo do Yuuta, que se escondia embaixo da mesa e do Hulk agiota que o procurava do outro lado.





Pether contemplou todas as cabeças mais uma vez e, em meio de um sorriso agradecido, pôde afirmar com a maior convicção de todas.





— Eu sou o Ovo!





E desta vez, apenas desta vez, ninguém poderia lhe refutar.    





THE END

Publicado por: Doton & Toddyoussauro
PublicaçÃo original em 23/08/2021

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